São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Missionárias dizem que estão prontas para morrer

ANGEL A. HERNANDEZ
DO "EL PAÍS", EM MADRI

"Estamos à espera de que alguma coisa aconteça. Só ficamos olhando para a cozinha para ver se decidiram entrar e nos matar."
A situação de Ruanda descrita assim pela religiosa Pilar Espelosín, da congregação Madres Missionárias de Jesus, Maria e José. Ela falou por telefone de sua missão isolada de Kibuie, a 140 km de Kigali (capital).
"Mataram nossos doentes e estamos preparadas para morrer", diz Pilar Espelosin. Há 22 anos em Ruanda, ela trabalha para o pequeno hospital de Kibuie com três missionárias de sua congregação, duas espanholas e uma ruandesa.
"Centenas deles desceram das montanhas com machetes (tipo de sabre), paus, lanças e flechas. Estão matando as crianças, mulheres, homens e velhos.", diz Pilar.
"Agora (ontem pela manhã), estão concentrados no nosso pátio. Conversamos com eles pela janela. Se quiserem entrar, terão que derrubar a porta", acrescenta.
A religiosa, porta-voz das outras missionárias, diz: "Nesta zona, a anarquia é total. Não existem autoridades. Mataram a todos e como sabem que temos refugiados aqui dentro, estão à sua procura".
Segundo ela, "isto é uma reação ao que está se passando em Kigali".
"Um dos nossos doentes, que estava gravemente ferido de um golpe de machete na cabeça, mataram sem compaixão", acrescenta.
"Temos crianças no depósito de cadáveres. Quase todos os mortos morreram por fratura craniana", afirma Pilar.
"Só poderiam nos tirar daqui de helicóptero, mas não iremos enquanto houver gente para cuidar. Não queremos morrer, mas nosso lugar é aqui. Estamos preparadas".

Tradução de Vera de Paula Assis

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