São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Governo de Ruanda abandona a capital

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo hutu de Ruanda fugiu ontem de Kigali, a capital do país, enquanto os rebeldes da etnia tutsi se preparavam para tomar definitivamente a cidade.
A ONU disse que 621 soldados das tropas de paz foram atacados pelos rebeldes em Byumba, cidade controlada pelo governo. Não foram fornecidos detalhes.
A França anunciou a retirada de 30% de seus 500 soldados. Eles ajudam a evacuar os cidadãos ocidentais –principalmente belgas e franceses– do país do centro-leste da África.
O Exército belga afirmou que cerca de 1.000 dos 1.500 cidaãos belgas em Ruanda já deixaram o país. Não se sabe quando o resgate vai terminar.
O porta-voz da Frente Patriótica de Ruanda (FPR), Wilson Rutayisire, disse que a invasão de Kigali pelos 2.400 guerrilheiros tutsis que cercam a capital já começou.
A FPR voltou a fazer ameaças e deu um prazo de 24 horas para que as forças ocidentais deixem o páis ou serão atacadas.
Todo os membros do gabinete ruandês, formado às pressas após a morte do presidente Juvenal Habyarimana, fugiram do Hotel dos Diplomatas, localizado no centro da capital, onde estava instalado.
Escoltado, o comboio foi para a cidade de Gitarama, 40 km a sudoeste da capital.
A guerra civil recomeçou na quarta-feira passada, quando um míssil derrubou o avião no qual viajavam Habyarimana, e o presidente do vizinho Burundi, Cyprien Ntaryamira.
Os soldados leais a Habyarimana (hutu) culpam a FPR, que invadiu o país em 1990. Um acordo de paz vigorava no país desde agosto do ano passado.
A FPR mantém 600 de seus melhores combatentes entrincheirados no prédio do Parlamento, em Kigali, pelos termos da trégua.
"O Exército não tem a menor chance (contra os rebeldes)", disse um comandante militar francês.
O capitão belga Ronny Veneers, que comanda a proteção do principal centro de evacuação de estrangeiros, disse que combates acontecem próximo ao local.
Muitos dos refugiados da guerra deixam amigos e parentes em Ruanda. "Como você se sentiria se estivesse deixando sua mulher e você não soubesse onde ela está?", disse um italiano.
Quatro aviões já chegaram a Bruxelas, na Bélgica. Os refugiados estavam em estado de choque por causa da violência na ex-colônia belga, independente em 1962.
"É uma carnificina", disse Marc Hellingh, que visitava amigos no país. Os relatos dão conta de pilhas de cadáveres e corpos mutilados nas ruas e hospitais.
Os belgas são impopulares entre a maioria hutu do país (cerca de 90% dos 7,3 milhões de habitantes). Eles são acusados de apoiar os rebeldes.
Houve rumores até sobre participação belga no atentado da semana passada. A Bélgica nega.

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