São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Caras e caras

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Louvável o interesse da CNBB em ajustar o programa do PT ao programa da instituição. Digo "instituição" para separar a Igreja da CNBB. Desde que foi revelado o ante do ante do anteprojeto partidário petista, a CNBB vem funcionando como ala "clean" do PT. Sentiu-se traída pelos radicais do partido e cobrou publicamente de Lula, o maior interessado em juntar os cacos ideológicos da agremiação.
Para candidatos malditos como Quércia, Maluf, ACM, Brizola, para qualquer outro candidato que não os benditos Lula e FHC, a CNBB não teria o pastoral desvelo de arrumar as coisas, ao menos no papel. Na prática, será problema de Deus Todo-Poderoso julgar os vivos e mortos.
Um partido abençoado por Deus e bonito de natureza não pode entrar de sola em dois problemas nos quais a CNBB ainda não tem cacife para modificar os Dez Mandamentos. Aliás, em matéria de programa, até que o PT procura ser o mais coerente e é, de longe, o mais honesto (dentro das possibilidades de alguma coisa ser honesta neste país).
A fusão do PSDB com o PFL ficou na dependência do "programa". Que programa, se os dois partidos, na verdade, não têm programa mas idéias genéricas a descartáveis, desde que o programa básico é a tomada do poder?
Uma vez decidido que a união seria "em torno dos programas e não de nomes", o PFL tratou de elaborar um. Convocaram dois ou três escribas e nas próximas semanas teremos o resultado, "ad hoc" ajustado ao "programa" do PSDB que a cada eleição é também ajustado.
Bom ou mau, os programas terão de durar até o segundo turno –se houver segundo turno. Aí então, de acordo com as novas coordenadas, serão feitos novos programas –e a CNBB terá de ser ouvida pois não ficará bem à entidade o voto descoberto a favor do PT.
Apreciei ver a cara do Lula na reunião com d. Luciano. Cara do homem comum, do brasileiro típico, cara do Brasil como queria Cazuza. Quanto à cara de d. Luciano, fingindo acreditar em tudo o que Lula prometeu, é a cara de Deus. Do Deus que –todos sabemos– nunca foi nem será brasileiro.

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