São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Denúncias questionadas

JANIO DE FREITAS

As denúncias da Procuradoria de Justiça do Estado do Rio começam hoje a ser submetidas ao primeiro crivo, com a avaliação preliminar que o corregedor da Câmara, deputado Fernando Lyra, fará dos documentos para decidir os procedimentos em relação aos parlamentares acusados de envolvimento com o jogo do bicho. As reações dos deputados que examinaram as cópias, afinal mandadas à Câmara pela Procuradoria, coincidiram no mesmo espanto com o que consideraram a insuficiência de valor dos papéis como provas.
Mesmo no caso do livro-caixa manuscrito, que apresenta maior aparência de autenticidade, os registros não se mostraram suficientes para sustentar as denúncias feitas. A deputada Cidinha Campos, por exemplo, é citada com frequência no livro-caixa. Mas já fez à Mesa da Câmara a entrega de gravações de programas de rádio em que divulgou doações de banqueiros de bicho a entidades filantrópicas, cujas necessidades foram antes divulgadas pela então radialista e hoje parlamentar. Diante desta prova, a referência ao seu nome no livro-caixa não é suficiente para demonstrar que a deputada, como pretende a denúncia, tenha recebido pessoalmente dinheiro do bicho. Outras investigações precisariam ser feitas, e não foram.
Embora não parlamentar, o caso de Paulo Maluf chamou a atenção, também, pela insuficiência das menções no livro-caixa para a denúncia que o atingiu. A contabilidade dos bicheiros discrimina cada despesa feita para um comício de Maluf na campanha presidencial de 89, mas não sugere que tenha sido destinado dinheiro a ele próprio. Sendo das seções regionais dos grandes partidos, em geral, a organização dos respectivos comícios, o livro-caixa permite supor que alguém do PDS do Rio obteve com os bicheiros o pagamento dos custos do comício que lhe coube organizar. Outra vez seria o caso de investigações, antes da acusação pessoal.
Mesmo no que parece óbvio, a falta de investigações tem comprometido as conclusões. O encontro do nome Nilo Batista com dois telefones em uma agenda apreendida no escritório dos bicheiros provocou, anteontem, a sensação de uma grande descoberta na Procuradoria. Mas, se forem enfim fazer uma verificação, os promotores vão descobrir que um dos telefones é de uma residência em Botafogo, onde nunca morou o governador do Estado do Rio. E o outro é de uma delegacia onde serviu, não faz muito tempo, um delegado que se chama Nilo Augusto Batista. É bem provável que cada Nilo Batista encontrado na papelada seja este policial, e não o governador acusado pela Procuradoria e por alguns jornais.
Só resta repetir: as implicações institucionais e as reputações pessoais em jogo neste caso são, no mesmo nível, sérias demais para que fiquem sujeitas a denúncias precipitadas.

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