São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Dossiê liga apontador do bicho ao tráfico

MÁRIO SIMAS FILHO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Dossiê liga apontador do bicho ao tráfico
Preso depõe e diz que é inocente
A Polícia Civil do Rio tem novos indícios que relacionam o apontador do jogo do bicho Carlos Alberto Gonçalves, o Carlinhos Barbudo, com o tráfico de drogas.
Um dossiê sobre o passado de Carlinhos mostra que há cerca de seis anos ele conseguiu sobreviver a uma "guerra" entre traficantes e bicheiros.
Segundo o dossiê, hoje Carlinhos tanto transita entre os traficantes como mantém seus pontos do bicho.
Ontem, Carlinhos negou ao juiz da 26ª Vara Criminal do Rio, Joel Pereira dos Santos, que tenha montado uma quadrilha para o tráfico no morro do Borel.
Há cerca de um ano ele responde processo na 26ª Vara, onde é acusado de formação de quadrilha para o tráfico de drogas.
No depoimento, Carlinhos afirmou que há 20 anos reside no morro do Borel. Disse ao juiz os nomes dos traficantes que atuam no morro e também confirmou que costuma anotar apostas do bicho na região.
O novo dossiê mostra que em 1987 Carlinhos tinha um ponto do bicho na rua Clarice Índio do Brasil, em Botafogo, Zona Sul do Rio.
Na época, ele era gerente de um bicheiro conhecido como Jaime Fantasma, que controlava pontos na Rocinha, na Lapa e em parte de Botafogo.
Em 1988, Jaime Fantasma passou a dedicar-se ao tráfico de cocaína e para tanto usava os pontos do bicho para distribuição da droga.
O comportamento do bicheiro foi reprovado pela cúpula do bicho. No mesmo ano, Jaime Fantasma foi assassinado.
Os pontos foram assumidos por Luiz Carlos Batista. Os traficantes, como resposta ao assassinato de Jaime Fantasma passaram a fechar os pontos da Rocinha, onde constantemente eram registrados tiroteios e diversas mortes.
Batista conseguiu manter o controle de seus pontos e, até a sexta-feira da semana passada, quando foi preso, Carlinhos era visto fazendo anotoções do jogo para ele.
Com relação aos traficantes, a Polícia Civil descobriu que é Carlinhos a ponte entre a cúpula do tráfico e os advogados que costumam atuar em processos contra pequenos traficantes presos em flagrante.
Segundo o dossiê, é Carlinhos quem trata os honorários desses advogados e quem leva o dinheiro do pagamento. Ontem, o advogado de Carlinhos, Mário Cury, afirmou que Carlinhos lhe levou muitos clientes.
"Ele é boa pessoa. O conheço há muito tempo. Ele me apresentou alguns clientes e até fez alguns pagamentos quando esses clientes não podiam comparecer no escritório", afirmou o advogado.

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