São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Leia a íntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda na TV

Boa noite.
Você trabalhador brasileiro, de qualquer nível ou atividade, acaba de receber o seu primeiro salário em URV.
Na prática, foi a primeira vez que sentimos o efeito do Programa de Estabilização na renda dos assalariados.
Mas sei que as pessoas ainda têm muitas dúvidas, inclusive porque muito se tem falado sobre supostas perdas na conversão dos salários. A verdade, no entanto, é que ninguém até agora conseguiu demonstrar que de fato essas perdas aconteceram. Ao contrário. Em alguns casos, houve até ganhos.
Por isso, acertei com o presidente Itamar Franco que falaria esta noite ao país, para explicar um pouco mais o programa econômico.
Para o trabalhador, para a maioria de nós que recebemos salário para enfrentar as despesas da família, o programa traz muitas vantagens.
Receber o salário em URV é receber um salário corrigido diariamente, de acordo com a inflação.
Ao contrário de outros planos, o nosso programa começou pela proteção do salário.
A dona de casa que vai ao supermercado ou à feira sabe melhor que ninguém que os salários sempre correram atrás dos preços. Por mais que houvesse reajustes e gatilhos, eles nunca serviram para proteger o salário.
Desta vez é diferente. Com a URV o salário passa a correr lado a lado com os preços em cruzeiros reais, na mesma velocidade. Além disso, nesta etapa, os industriais e os comerciantes, além do próprio governo, estarão convertendo contratos, preços e tarifas para a URV.
Bem, mas aí vocês podem perguntar: e o preço em cruzeiros reais, não continua aumentando todos os dias?
É verdade. Como eu disse antes, nesta etapa, os preços em cruzeiros reais continuam ainda correndo, e o salário correndo ao lado. O que é preciso é parar essa corrida dos preços, pois só alguns poucos privilegiados ganham com ela.
Neste momento, o salário já está em URV e os preços também convertidos estão parando de aumentar. Por quê? Porque quem contrata em URV pára de reajustar, e assim o valor das coisas fica igual. E o governo está vigilante, como no caso da cerveja e dos remédios.
Com o salário de abril, você poderá comprar as mesmas coisas que comprou com o salário de março, o primeiro a ser corrigido.
Hoje muitos produtos e serviços já têm dois preços, um em cruzeiros reais, que ainda continua sofrendo aumentos, e outro em URV, que fica estável e que é também a medida do valor do seu salário. O resultado é que o comércio já está aumentando as suas vendas e já se pode comprar a crédito em URV, sem inflação e sem ágio.
Dentro de pouco tempo, como o salário e os preços estarão ambos em URV, os preços em cruzeiros reais não vão querer dizer mais nada.
E logo vamos chegar ao momento esperado: em vez de só mudar o nome do dinheiro, vamos agora mudar o próprio dinheiro. Mas isso quando a URV já tiver cumprido o seu outro papel, que é o de dar ao produtor e ao comerciante condições de prever os seus
custos e assim estabilizar os preços. A idéia é uma só: o novo dinheiro vem quando a URV tiver completado o seu trabalho.
E nesse momento vai entrar em campo o real, que substitui a URV, acaba com o cruzeiro real e será o novo dinheiro de um Brasil sem inflação.
Será uma moeda forte, como a dos países desenvolvidos. Um dinheiro que vale porque a inflação é baixa, a economia funciona, e os salários têm poder de compra.
Estamos fazendo essa mudança sem surpresas, sem sustos, sem correrias, discutindo cuidadosamente sobre cada um dos próximos passos do programa. E vamos anunciar a chegada do real pelo menos com 35 dias de antecedência.
Temos agora uma grande chance, uma chance talvez única de acabar de uma vez por todas com uma inflação que está destruindo o Brasil.
Começamos arrumando a casa, equilibrando as contas do governo, cortando gastos e indo atrás dos sonegadores de impostos para aumentar a arrecadação.
Todos gostaríamos de ter um salário mínimo mais alto. E que todos os salários pudessem ter ganhos ainda maiores. Mas vamos ser honestos. Neste momento, esses aumentos seriam uma ilusão, pois iriam aumentar ainda mais a inflação. Além disso, desequilibrariam gravemente o Orçamento do governo. Só para dar uma idéia, um aumento do salário mínimo agora acabaria de arrebentar o caixa da Previdência Social e de muitos governos estaduais e prefeituras.
O governo Itamar Franco nunca acreditou que pode salvar o país sem o apoio de cada brasileiro –trabalhador, empresário, dona de casa, estudante, líder político.
A responsabilidade deve ser de todos.
Aos líderes políticos, aos candidatos, aos membros do Congresso, ao Poder Judiciário, faço mais uma vez o apelo para que compreendam a necessidade de manter o programa de estabilização.
Dêem uma chance ao programa.
Os pacotes econômicos que trouxeram choques, congelamentos, feriados bancários e até confisco da poupança foram aprovados pelo Congresso, que lhes deu essa oportunidade de serem testados na prática. Seria uma enorme injustiça o primeiro plano realmente democrático, sem choques, sem surpresas, sem violências não merecesse o mesmo voto de confiança.
O Congresso Nacional, que conhece os sentimentos, as angústias e as esperanças dos brasileiros, sabe que deve viabilizar um programa que reúne todas as condições para dar certo, que só precisa de uma chance para provar isso.
Não vamos nos iludir, nem tentar iludir a opinião pública. Sem a estabilização da economia, não será possível melhorar os salários e corrigir as injustiças, nem dar ao governo condições para atender a saúde, a educação, a segurança pública, os aposentados, como é seu dever.
Esta é a primeira vez que um governo, em ano eleitoral, ao invés de gastar mais, faz um plano que corta os seus próprios gastos, para que o próximo governo, seja ele qual for, possa receber a economia em ordem.
É preciso que todos os que querem governar este país a partir do ano que vem compreendam que não poderão cumprir suas promessas se assumirem com a economia em crise, com inflaçãoelevada, com o governo incapacitado de executar suas funções mais elementares.
Os brasileiros não aceitarão que interesses menores impeçam o programa de funcionar nestas semanas decisivas. Na verdade, todos nós sabemos disto, o interesse do eleitor está em acabar com a inflação. E não em ouvir, mais uma vez, promessas que não vão resolver os problemas do país.
E o maior problema social e econômico do Brasil de hoje é a inflação.
Esse é o grande desafio, a razão da nossa luta.
Com a ajuda de Deus e de todos os brasileiros, vamos alcançar o que buscamos e construir um país melhor e mais justo, sem inflação e onde o dinheiro e o salário recompensem o esforço de quem trabalha.
Obrigado e boa noite.

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