São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Vendas de bens de consumo se recuperam

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria de bens de consumo não tem do que reclamar do mês de março e dos primeiros dez dias de abril. A estréia da URV (Unidade Real Valor) atrapalhou as vendas somente nos primeiros dias. O balanço do mês, porém, foi positivo. Empresas chegaram a dobrar a venda de alguns produtos –por exemplo, de fornos microondas–, na comparação com igual mês do ano passado.
A previsão dos empresários é de que neste mês o ritmo de consumo continue maior do que o de abril de 1993 –em torno de 20% a 30%, em média. Para justificar esse crescimento, eles apontam três razões: a volta do crediário mais longo, a proximidade do Dia das Mães e da Copa do Mundo.
"Não existe bolha e nem vai haver explosão de consumo. O que verificamos hoje é uma recuperação das vendas. Os agentes econômicos não vão permitir excesso de demanda", afirma Victor Leal, diretor de vendas da Gradiente.
Antes da URV, continua ele, a empresa já trabalhava com previsão de faturar 20% mais neste ano. "Não faremos qualquer alteração nos planos traçados para 1994." A Gradiente vendeu no primeiro trimestre 20% mais do que em igual período do ano passado.
A Sharp do Brasil informa que as vendas em março "surpreenderam". No mês passado, ela comercializou 72 mil televisores em cores, 30% mais do que em igual período de 1993 (55 mil unidades). As TVs são seu carro-chefe. Representam 60% do faturamento.
No caso de fornos microondas, as vendas dobraram no período –de 7 mil para 14 mil unidades. A expectativa para este mês é a de comercializar entre 5% e 8% mais destes dois produtos, na comparação com o mês passado. A diretoria da empresa informa que a partir do dia 20 de março as vendas deslancharam e continuam indo bem nos primeiros dez dias de abril.
A Sharp atribui à Copa e às mães o ritmo crescente de vendas. Na avaliação da sua diretoria, o Dia das Mães é considerado o segundo Natal para a indústria eletroeletrônica. A empresa não vê bolha de consumo e não aposta na explosão de demanda.
O comércio está, de qualquer forma, aumentando os seus estoques. A Casas Bahia, por exemplo, começou o mês de abril com 133 mil eletrodomésticos portáteis nos seus armazéns -número 20% maior do que o de igual período do ano passado.
Michael Klein, diretor, diz que o aumento dos estoques se deve ao fato de as vendas a prazo terem deslanchado com a implantação da URV. Antes da estréia do novo indexador, as suas cem lojas financiavam diariamente cerca de 6.000 produtos. Hoje, este número já pulou para 8.000. Cerca de 66% do crediário da Casas Bahia é indexado em URV. A empresa ainda mantém o plano antigo (prestações fixas em cruzeiros reais; a taxa de juros praticada é de 48% ao mês).
Para Alexandre Bossolani, diretor executivo do Eletro-Magazine, com 30 lojas no Estado de São Paulo, as vendas estão crescendo porque o consumidor percebeu que as prestações sobem tanto quanto o seu salário. "Isso faz com que ele não tenha medo de assumir prestações em URV." Segundo ele, o Eletro-Magazine faturou em março 30% mais do que em igual período do ano passado, em dólar.
Têxtil
Jacks Rabinovich, diretor presidente do grupo Vicunha, diz que as vendas não vão bem no setor têxtil. "Havia expectativa de melhora neste mês. Até agora isso não se confirmou." Segundo ele, os fabricantes de tecidos e roupas e as lojas ainda não conseguiram se entender em torno de preços em URV. "Está havendo dificuldade para 'urvizar' preços."
Na análise de Rabinovich, esta paralisação é momentânea. "O varejo não quer comprar em URV porque tem que vender em cruzeiros reais. A indústria quer vender em URV." Segundo ele, o setor têxtil é bastante fragmentado. Isso dificulta a "urvização".

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