São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Manifestação de zulus reúne 30 mil em Natal

KARL MAIER
DO ‘‘ THE INDEPENDENT’’, EM VRYHEID

O desafio aberto ao estado de emergência que vigora há duas semanas na África do Sul voltou a se manifestar ontem.
Cerca de 30 mil defensores do Partido da Liberdade Inkatha, do chefe Mangosuthu Buthelezi, transformaram o centro da cidade de Vryheid, ao norte da província de Natal, num mar de clavas, escudos e bastões.
Um grande contigente armado, incluindo pelo menos 150 soldados das Forças Armadas da África do Sul e uma dúzia de tanques e carros blindados, tentou em vão convencer os manifestantes a deporem suas ‘‘armas tradicionais’’.
Eles se dirigiram para o centro da cidade para apresentarem um documento entitulado ‘‘Dêem ouvidos ao aviso do PLI’’ (o Inkatha).
O coronel Steve Naude afirmou que, quando a polícia tentou desarmar a multidão, foi afastada com vaias.
O documento, apresentado na sede da polícia, repetia uma declaração lançada numa manifestção em Empangeni, no dia 5 de abril, na qual a proibição imposta pelo estado de emergência (decretado pelo presidente Frederik de Klerk no dia 31 de março) ao porte de armas tradicionais foi ignorada pela primeira vez.
O documento dizia que ‘‘não poderá haver paz neste país’’ se não forem satisfeitas as exigências do Inkatha.
Entre as reivindicações estão: a reforma da Constitução provisória de 1993, adiamento das eleições gerais marcadas para 26-28 de abril, maiores poderes regionais e aceitação do chamado do rei Goodwill Zwelithini a uma monarquia autônoma zulu.
Enquanto a multidão lotava o centro da cidade, assistida por dois helicópteros que sobrevoavam a área e por dúzias de policiais e soldados armados, um coro começou a cantar ‘‘Buthelezi vai governar este país’’, acompanhado por milhares de pessoas batendo palmas em uníssono.
Jurie Mentz, 68, que em janeiro do ano passado deixou o governista Partido Nacional pelo Inkatha, perguntou à multidão, em zulu? ‘‘Vocês concordam em serem governados por Nelson Mandela?’’ A resposta foi um retumbante ‘‘não’’.
Segundo Mentz, o Congresso Nacional Africano e o governista Partido Nacional haviam subestimado os defensores do chefe Buthelezi, que ele descreveu como ‘‘um homem de coragem’’.
Para ele, a violência seria iniciada pelo governo, e ‘‘se os zulus forem pressionados a fazerem o que não querem haverá guerra civil’’.
Ontem, em Ndwdwe (Natal), sete pessoas que distribuiam panfletos políticos em defesa da eleição foram assassinadas a golpes de machado.

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