São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Samba dos partidos doidos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O Estado do Mato Grosso caminha para se transformar na prova acabada e definitiva da completa anarquia do sistema partidário brasileiro.
Dante de Oliveira (PDT), ex-prefeito de Cuiabá, está terminando de montar uma coligação com nove outros partidos, que incluem exatamente as três agrupações que apóiam, para a Presidência, os três maiores adversários de Leonel Brizola, virtual candidato do PDT de Dante.
Com isso deixa de ser figura de retórica ou força de expressão a hipótese de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Orestes Quércia ou José Sarney (PMDB) estarem no mesmo palanque, junto com Brizola.
O acordo que Dante, candidato a governador, fechou com os partidos coligados prevê que, sempre que forem a Mato Grosso os respectivos candidatos presidenciais, ele tem direito de estar no palanque e de pedir votos para Brizola. A única ressalva é que terá de fazer os elogios de praxe ao outro candidato presidencial presente.
Para completar a mixórdia, só falta o endosso da convenção do PMDB local, cuja direção é favorável a essa supercoligação. Mas a corrente liderada pelo ex-governador Carlos Bezerra ainda tenta emplacar candidatura própria, a de Bezerra.
Dante está agora em busca de um verdadeiro milagre: quer que a coordenação da campanha prepare o que chama de "discurso lógico" para todos os palanques. Ou seja, Dante quer dizer a mesma coisa na presença de Lula, FHC, Brizola ou Quércia ou Sarney.
Como se a confusão fosse pouca, ainda há o fato de que o candidato adversário, Osvaldo Sobrinho, pertence ao PTB e é apoiado pelo PFL, exatamente dois dos partidos com os quais procura se coligar o PSDB de Fernando Henrique.
Pode acontecer, portanto, de o virtual candidato "tucano" ser obrigado a subir a dois palanques diferentes e opostos, quando chegar a hora de fazer campanha no Mato Grosso. Ou, na hipótese mais grotesca, os dois adversários locais (Dante e Osvaldo Sobrinho) aparecerem juntos no palanque de FHC. Parece até brincadeira.

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