São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O exemplo da menina estuprada

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – É uma história exemplar ocorrida esta semana. O traficante Pedrinho Maluco virou herói numa comunidade pobre do Rio. Motivo: Aline Pereira de Sá, uma menina de nove anos que, depois de estuprada, foi assassinada.
O caso ajuda a entender por que o crime organizado obtém adesão popular. Aí está uma das raízes do poder dos bicheiros, protagonistas de um dos maiores escândalos políticos da história brasileira.
Depois que Aline desapareceu, os pais entraram em desespero, mas não conseguiram ajuda da polícia. Maluco entrou em ação, acionando, como ele próprio diz, seus "soldados".
Refizeram o trajeto da menina e descobriram o assassino-estuprador. Foi executado a golpes de picareta e queimado. Para completar, o traficante providenciou o enterro: enviou 50 buquês de rosas e cravos para decorar o altar.
O crime organizado –e não apenas no Rio– ocupa o vazio deixado pela falência do Estado. Não sem motivo, portanto, os bicheiros, conectados com o tráfico, vendem a imagem de benfeitores.
Os grupos de extermínio conquistaram o respeito das comunidades. São, muitas vezes, a única referência para segurança. E, não raro, acabam se ligando a diversas modalidades de crime organizado. A matança de marginais ou supostos marginais é quase um marketing.
Há relatos em São Paulo de que o narcotráfico ganha "base social" apenas porque emprega crianças na venda de tóxico, dando-lhes uma ajuda mensal superior ao que ganhariam.
Estamos, enfim, no caminho da Colômbia.
PS – Em contato ontem com esta coluna, o ministro da Saúde, Henrique Santillo, informou que decidiu liberar os chamados óculos de leitura. Indivíduos com mais de 40 anos poderão comprar sem receita médica óculos pré-fabricados. Livre nos países desenvolvidos, onde é vendido até em supermercados e farmácias, esse produto tem um custo bem mais baixo, chegando até a US$ 5,00. Segundo ele, a medida vai ajudar no mínimo 10 milhões de pessoas que sofrem de vista cansada, mas não têm acesso a oftalmologistas.

Texto Anterior: Pelé, vice de Brizola
Próximo Texto: Samba dos partidos doidos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.