São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Bicho investe US$ 2 mi em eleições

XICO SÁ

Ajuda aos candidatos é feita através de doações e da distribuição de material de campanha

O esquema do jogo do bicho no Rio investiu uma média de US$ 2 milhões em cada uma destas eleições: para o governo do Estado (86), presidente da República (89), governo do Estado (90) e prefeitura (92).
Essa pelo menos foi a quantia revelada pelos próprios bicheiros, durante as reuniões reservadas que mantinham com os tesoureiros das grandes campanhas. Em troca, os contraventores têm a garantia de levar vantagem com os eleitos.
Os US$ 2 milhões –repassados pelos onze maiores bicheiros do Estado– incluem os gastos com um batalhão de 25 mil pessoas.
Nas eleições, os empregados fixos do jogo exercem os papéis de cabos-eleitorais, agentes de segurança e fiscais de boca-de-urna.
O apoio nas eleições rende bons resultados para os contraventores. Levantamento feito pela Folha (veja quadro ao lado) mostra que obtêm proteção para agir livremente, além de outras vantagens, como nomeação de funcionários importantes e doações de terrenos.
O ex-governador Moreira Franco (87-91), por exemplo, contou com a ajuda de parte dos contraventores na campanha de 1986, segundo Aniz Abraão David –conhecido como Anísio.
Quando passou a exercer seu mandato, Moreira não poderia negar os pedidos dos bicheiros.
O então governador doou um terreno do Estado, com 47.000 m2, para a Liga das Escolas de Samba, que era dirigida por Aylton Guimarães Jorge, o conhecido bicheiro Capitão Guimarães.
O prefeito César Maia (PMDB), citado na lista do bicho, teria recompensado Castor de Andrade de outra forma: com a nomeação de um funcionário estratégico na assessoria do seu gabinete.
Trata-se de Sérgio Luis Felippe, dono de várias bancas de bicho no Estado e um dos homens de confiança de Castor.
As reuniões da cúpula do jogo do bicho com os tesoureiros de campanhas eram realizadas, até as últimas eleições, em 92, no quinto andar da Rua da Assembléia, nº 10, centro do Rio.
Foi nesse endereço que esteve o deputado federal Cleto Falcão (PSD-AL), quando foi pedir ajuda para a campanha presidencial de Fernando Collor, em 89.
Paulo César Farias, o PC, era o tesoureiro nacional da campanha, mas essa tarefa havia sido delegada a Cleto pelo próprio Collor.
O deputado disse que não conseguiu dinheiro (leia texto ao lado). O apoio teria sido em material de campanha (camisetas, cartazes, panfletos) e pessoal (cabos eleitorais e seguranças para comícios).
O bicheiro José Petrus Kalil, o Zinho, conta aos seus amigos que Collor havia mandado pedir US$ 1 milhão, mas teria obtido apenas US$ 100 mil em dinheiro e mais US$ 400 mil em material e apoio de pessoal para a campanha.
A força do bicho nas votações do Rio é correspondente à força dos empreiteiros em outros Estados", diz o procurador regional eleitoral, Alcir Molina da Costa.
Ele inicia amanhã as apurações para saber qual o comprometimento do jogo do bicho com os 31 políticos que aparecem na lista divulgada pela Procuradoria de Justiça.

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