São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Estudo questiona mania de vitamina

RICARDO BONALUME NETO

Pesquisa sobre câncer reacende debate sobre a função preventiva dessas substâncias

Os fumantes tiveram uma péssima notícia na última edição de uma das mais famosas revistas médicas do planeta.
Agora se sabe que tomar vitaminas com o objetivo de tentar evitar o câncer do pulmão não funciona. Ao contrário: houve maior incidência de câncer entre aqueles que tomaram esses suplementos alimentares, notadamente o beta-caroteno.
O resultado da nova pesquisa é uma ducha gelada nas pretensões dos vendedores de vitaminas, que têm sido divulgadas como "remédios para todos os males".
Por outro lado, o estudo não significa que essas substâncias "antioxidantes" sejam a causa do câncer.
Resumindo: 29.133 homens finlandeses de 50 a 69 anos, todos fumantes, foram acompanhados por médicos, durante cinco ou até mesmo oito anos, para saber se o consumo de suplementos afetaria suas chances de ter câncer do pulmão, doença tipicamente associada ao fumo.
Os resultados, surpreendentes, foram publicados na revista médica americana "The New England Journal of Medicine".
Os suplementos foram de dois tipos: uma vitamina, a alfa-tocoferol (vitamina E), e uma provitamina, isto é, uma substância que, ingerida, transforma-se em vitamina no organismo, o beta-caroteno (que vira vitamina A no corpo).
Esperava-se que os consumidores dos suplementos tivessem menos risco de câncer. Descobriu-se que não, até mesmo o contrário.
Isso prova o que já se sabia: que a medicina está longe de conhecer o papel "preventivo" das vitaminas, apesar de seu papel "curativo" ser óbvio.
Explicando: vitaminas são essenciais para os seres vivos, mas seu consumo para a prevenção de doenças é duvidoso.
A falta produz doenças, como o escorbuto, provocado pela falta de vitamina C. Não há dúvida: vitamina C cura escorbuto.
O aspecto de prevenção é mais complicado. Apenas muitos estudos, de longo prazo, poderiam estabelecer relação de causa e efeito entre o consumo de algo e a diminuição de incidência de determinada doença.
Sobre o papel preventivo de câncer e doenças cardiovasculares, editorial da "New England" foi taxativo: "Ainda não há resposta".
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Sobre vitaminas na pág. 4

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