São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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A.F.C. ainda celebra missa

DA REPORTAGEM LOCAL

O padre A.F.C., 44, doente de Aids, está quase cego, mas aos domingos ainda celebra missa nos mosteiros e seminários da cidade.
AFC acredita que se contaminou em 87 usando o mesmo barbeador de um padre com quem dividia uma casa.
"Ele se cortava muito. Não vejo outra razão." O padre morreu de Aids em 89.
Até novembro de 92, AFC foi pároco de uma igreja da zona norte de São Paulo. Hoje mora com um bispo da cidade que todos os dias o leva para tratamento.
Ele descobriu que estava com HIV em 90 quando fez um teste no Hospital São Camilo, dos padres camilianos. "Antes de me informar, o hospital ligou para o meu bispo", conta.
"Na cabeça das pessoas, quem pegou Aids usa drogas ou é homossexual. O HIV é visto como problema moral não como doença."
Segundo AFC, seus superiores nunca perguntaram como pegou o vírus. Mas o preconceito se manifestou depressa.
"Eu tinha um círculo de amigos padres e logo eles foram se afastando. Hoje vivo quase sozinho."
Ele diz que conhece pelo menos dez outros colegas portadores ou pacientes de Aids. "Alguns continuam tocando suas paróquias. Mas ninguém se reúne para dar força ao outro. Ainda não tivemos coragem para isso.
A família de AFC e os que assistem sua missa não sabem que está com Aids. "Eu procuro evitar as pessoas. Se me perguntam porque estou quase cego, digo que foi a herpes."(AB)

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