São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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US$ 49 bi somem com virada do juro

NILTON HORITADA REPORTAGEM LOCAL

A fatia brasileira das perdas provocadas pela derrocada das Bolsas no mundo inteiro e o terremoto que se abateu sobre o mercado financeiro mundial, após a segunda alta dos juros nos EUA desde 2 de fevereiro, é de US$ 49 bilhões.
Equivalente exato dos US$ 49 bilhões renegociados sexta-feira pelo governo brasileiro com os bancos credores, a perda representa pouco no oceano de US$ 600 bilhões de prejuízos causados aos investidores internacionais.
Calcular as perdas provocadas pela elevação dos juros nos EUA é o exercício do momento entre bancos, empresas, investidores e especuladores. O resultado é de arrepiar os cabelos.
"Vivemos num mundo de riscos e isto está sendo relembrado no momento", diz Cláudio Haddad, superintendente do Banco Garantia, que fez os cálculos da queda de preço de todos os títulos negociados no mercado mundial.
"Depois de um período de alta rentabilidade, as pessoas ficaram assustadas e procuram agora onde está o menor risco", acrescenta.
As perdas pouco têm a ver com lucros ou prejuízos de alguém, mas o quanto os financistas de todo o mundo ficaram mais pobres. É como se, por causa de uma recessão, o dono de um imóvel não encontrasse mais compradores dispostos a pagar o valor justo. Só com desconto de, digamos, 30%.
Somando o preço dos títulos da dívida externa brasileira, a taxa dos eurobônus de empresas nacionais e a cotação das ações nas Bolsas, calcula-se a corrosão de US$ 49 bilhões no patrimônio.
Do total, US$ 8 bilhões são referentes à queda de 30% na cotação dos papéis da dívida brasileira. Outros US$ 40 bilhões são adicionados pela queda de 30% no valor de mercado das ações. O US$ 1 bilhão que falta representa a depreciação dos eurobônus brasileiros.
Segundo Eduardo Saad, diretor da Merrill Lynch Distribuidora de Valores, os valores calculados até o momento podem ser até modestos. "Uma coisa que não dá para calcular é quanto perderam os investidores que aplicaram em Bolsa com dinheiro emprestado ", afirma. "E eles são muitos."
As Bolsas de todo o mundo giram US$ 7 trilhões. O segmento de renda fixa, mais US$ 10 trilhões. Fora isso, existem os chamados "derivativos", que movimentam cerca de US$ 16 trilhões.
LEIA MAIS
sobre juros e Bolsas na pág. 2-12.

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