São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Carro bem-nascido é segredo da Benetton

FLAVIO GOMES

Carro bem nascido é segredo da Benetton
Três anos atrás, o inglês John Barnard criou o conceito de carro 'tubarão' e sofisticou a aerodinâmica da F-1

A Benetton deveria erguer um busto do projetista John Barnard em sua sede pelo sucesso de seus carros no Mundial de F-1.
O segredo da máquina que, na abertura da temporada, em Interlagos, arranhou o favoritismo da Williams é o projeto bem nascido.
Barnard ficou um ano sobre as pranchetas antes de lançar o modelo B191, em abril de 91. Dois meses depois, deixou a equipe por diferenças de métodos de trabalho.
O carro que o inglês criou revolucionou a aerodinâmica na F-1. No lançamento, ele dizia, sem nenhuma modéstia, que o B191 era "o início de um novo ciclo".
Quando surgiu aos olhos do mundo, o carro foi apelidado de "tubarão", por causa do bico largo e alto, numa época em que se faziam bicos finos e baixos.
A idéia de levantar a parte dianteira do cockpit, deixando-a quase na horizontal, pretendia aproveitar os fluxos de ar que passam por baixo do carro em alta velocidade.
Ao contrário do que se imagina, esse trabalho do vento não se reflete apenas na frente da máquina, mas também na parte traseira.
Com o bico alto, aumenta a quantidade de ar que passa por baixo do carro. Esse grande volume é "jogado" para trás, criando ali uma zona de baixa pressão –porque o ar passa muito rápido nos 6 cm entre o solo e o assoalho.
Assim, o ar que passa por cima, nas laterais e no aerofólio "empurra" o carro para baixo com menor esforço, como uma mão invisível, aumentando sua aderência.
Faltava resolver o problema na frente. Barnard abaixou o spoiler (asa dianteira) paralelamente ao chão, criando uma área enorme para que o ar também "empurrasse" a dianteira para baixo.
Depois que o projetista deixou a Benetton, assumiu o norte-americano Gordon Kimball. Depois dele a equipe chamou de volta o sul-africano Rory Byrne.
Byrne radicalizou os conceitos de Barnard, ergueu ainda mais o bico (diz que só não fez mais horizontal porque numa eventual batida poderia acertar o capacete do outro piloto) e mudou a traseira.
Byrne fez como no cinema, criando os "tubarões" II, III e IV. O atual, B194, é a evolução mais bem-acabada do carro de Barnard.
Nenhum chassi, hoje, aproveita tão bem o ar. Por isso que a Benetton não sentiu tanto o fim da suspensão ativa. Seu carro tem uma aderência estupenda e traciona como se tivesse controle eletrônico, porque "gruda" os pneus no chão.
Quem viu o carro deve ter observado que o "tubarão" de Michael Schumacher dava a impressão de sorrir, com a faixa vermelha no bico para diferenciar os pilotos do time. Três anos depois, o tubarão de Barnard sorriu.

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