São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Imprensa mundial reage contra Comitê

FERNANDO CANZIAN

Organização da Copa anuncia que vai 'rever' formulário que autoriza investigar o passado dos jornalistas
Alan Rothenberg, presidente do Comitê Organizador, pode reavaliar investigação do FBI

O Comitê Organizador da Copa do Mundo em Nova York decidiu na noite de sexta-feira rever a decisão de colocar o FBI (a polícia federal dos EUA) para investigar os jornalistas que estão se credenciando para a Copa.
"Todo o credenciamento está sendo revisto", disse John Griffin, chefe de imprensa do Comitê. "Ainda não sabemos ao certo o que vai mudar. As decisões serão tomadas nos próximos dias em Los Angeles", afirmou.
Em entrevista à Folha na manhã de sexta-feira em NY, John Griffin, chefe de imprensa do Comitê, disse que considerava as reclamações da imprensa "ridículas".
No início da noite, Griffin informou que a medida seria revista. O Comitê Organizador foi duramente criticado pela imprensa de todo o mundo nos últimos dias.
Os organizadores queriam que todos os interessados na cobertura dos jogos assinassem um termo de compromisso renunciando à "privacidade com fins de segurança".
As investigações seriam realizadas pelo FBI. O birô federal dos EUA teria acesso às fichas dos jornalistas através do Comitê e faria a checagem dentro e fora dos EUA.
Além dos seus próprios arquivos, o FBI tem acesso a informações das polícias federais de quase todo o mundo e dos departamentos de imigração em vários países.
O jornal mais conceituado dos EUA, o "The New York Times", enviou carta na segunda-feira passada ao presidente do Comitê Organizador da Copa, Alan Rothenberg, repudiando a medida, considerada "grotesca, ultrajante e inapropriada".
"A medida nos atinge como uma grotesca invasão de privacidade. Os membros da mídia não deveriam ser obrigados a lutar por seus direitos civis para exercer a sua profissão", dizia o texto da carta do "NYT".
Na carta, o "NYT" afirma que "tal informação é inteiramente desnecessária e irrelevante. Repórteres do 'The New York Times', assim como os de jornais de todo o país, não são vândalos e não precisam ser submetidos a esse tipo de investigação ultrajante de sua organização."
Para o jornal norte-americano "tal medida não tem precedentes. (...)Nunca foi solicitado a nossos jornalistas que concordassem com semelhante pedido como condição para cobrir Copas do Mundo, Jogos Olímpicos, etc."
No Brasil, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiou a medida, qualificando-a como "antipática". Outros jornais brasileiros também criticaram a decisão.
Ontem pela manhã não havia nenhum funcionário no Comitê Organizador em NY ou no escritório em Los Angeles que tivesse qualquer informação sobre que mudanças que serão adotadas no credenciamento.
O porta-voz do FBI em Washington, John Kundts, disse na sexta-feira que as investigações "visam a segurança do país". O FBI, segundo Kundts, está preocupado com o volume de pessoas que vai circular pelos EUA nas nove cidades onde os jogos da Copa acontecerão a partir de junho.

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