São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova glaciação pode estar a caminho

PERISCÓPIO

JOSÉ REIS

Os calamitosos efeitos da onda de frio que recentemente atingiu os Estados Unidos foram devidos a um ocasional e momentâneo desvio para o Sul ao longo da corrente de jato ("jet stream"), que dirige os movimentos do ar sobre a América do Norte.
Com o desvio, a corrente puxou para baixo um grande sistema de alta pressão da Sibéria e do Ártico.
Na revista "Time", Michael D. Lemonick, após dar essa explicação, comenta que, caso esse fenômeno se repita muitas vezes, poderá ser indício da efetiva chegada de um novo período glacial que ninguém sabe quanto tempo duraria (milhares de anos?).
Os períodos glaciais, que cobrem de gelo grandes partes do planeta, foram primeiro assinalados por Jean Loyis Agassiz (1803-1873).
Acreditava-se que eles se alternavam regularmente com eras temperadas. Após as escavações realizadas nos sedimentos do leito do Atlântico e nas geleiras da Groenlândia, os cientistas modernos estão convencidos de que a transição de um período a outro pode sobrevir em uma ou duas décadas.
Sabe-se também que as eras glaciais (glaciações) não são uniformemente geladas, mas estão sujeitas a períodos quentes, assim como os intervalos temperados são interrompidos por surtos frios.
Quando, há mais de um século, se anunciou que boa parte do hemisfério Norte esteve coberto de gelo por muitos anos, houve muita controvérsia. A maioria dos especialistas, porém, se converteu à idéia e começou a conceber teorias que explicassem o fenômeno.
Essas teorias chegam a mais de 50 e enquadram-se em quatro tipos principais: cósmicas, geográficas, geofísicas e astronômicas.
Alguns cientistas antigos supuseram que o nosso sistema planetário atravessasse em seu caminho ocasionais regiões frias.
Outros acreditavam na existência de nuvens cósmicas que, dispersando os raios solares, determinassem a queda da temperatura.
Data de 1934 a teoria meteorológica de George Simpson, que sustenta que um aumento do calor solar cedido à Terra levaria a maior evaporação das águas e força dos ventos. O vapor d'água iria para regiões frias, formando neve.
Por outro lado, a nebulosidade intensa protegeria a neve contra a insolação, aumentando continuamente as geleiras. Victor Leinz e Sérgio Estanislau do Amaral ("Geologia Geral") acham a idéia engenhosa.
Os argumentos geofísicos procuram explicar as grandes glaciações por mudança de posição dos oceanos (hipótese bem conhecida), mas em geral contêm falhas que os inviabilizam.
Entre as teorias geográficas, a mais destacada é a de Wallece Broecker e George Denton, que imaginam uma corrente oceânica cíclica que, como esteira rolante, transporte água extremamente salgada e densa sob a corrente do Golfo que se move dos trópicos para o Atlântico Norte.
Quando a corrente salgada atinge o extremo Norte, é forçada para a superfície à medida que a água a ela sobreposta é espalhada para fora pelos ventos.
Então ela descarrega seu calor tropical no ar do Ártico, resfria-se e desce para o fundo, por onde retorna aos trópicos, sendo novamente aquecida. Quando a corrente pára de fluir, começa um período glacial ou surto frio.
Dos argumentos astronômicos, o mais importante é o que relaciona as variações climáticas com os chamados ciclos de Milankowitch.
Na década de 20 e 30, o astrônomo Milutin Milankowitch estudou as flutuações na recepção do calor solar nas várias latitudes, que poderiam ocorrer em consequência das modificações da órbita e do eixo de rotação da Terra.
Ele correlacionou esses ciclos com as era glaciais. Algumas provas se acumularam a favor da hipótese de Milankowitch, mas os ciclos foram durante algum tempo renegados.
Na década de 80, todavia, houve uma parcial reabilitação dos ciclos. Acredita-se hoje que eles existam realmente e influam no clima, porém a teoria não basta para explicar todo o fenômeno das eras glaciais.
Isso significa que eles não têm relação causal direta com as eras glaciais e suas variações.

Texto Anterior: Saiba o que é eletrochoque
Próximo Texto: COMEMORAÇÕES
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.