São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Novas incógnitas

Embora faltem menos de seis meses para o primeiro turno das eleições presidenciais, o quebra-cabeças que será colocado ao eleitorado ainda não está completo. Falta, aliás, definir o candidato do PMDB, precisamente a maior agremiação política do país.
Por mais que a eleição se encaminhe para ser uma disputa entre personalidades, na qual o partido a que pertençam aparentemente contará pouco ou nada, o fato de o PMDB dispor da máquina mais estruturada em todo o país pode alterar o cenário que se desenhou na mais recente pesquisa de intenção de voto do Datafolha. A sondagem esboçava uma bipolarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Mas quando se incluía entre os presumíveis candidatos o nome do ex-presidente José Sarney (PMDB), a bipolaridade reduzia-se. A diferença entre FHC, o segundo colocado, e Sarney, o terceiro, caía para apenas sete pontos percentuais.
Sarney, a propósito, é uma das duas poucas novidades potenciais na lista de candidaturas. Não por ser um político novo, evidentemente, mas sim porque já parecia afastado da disputa sucessória, em função das dificuldades que seu nome enfrentava –e ainda enfrenta– dentro do próprio PMDB.
O retorno do ex-presidente ao noticiário sobre a sucessão não elimina, em todo o caso, as dúvidas a respeito do seu potencial eleitoral. Sarney terminou a sua estada no Palácio do Planalto com uma inflação recorde na história brasileira. As suspeitas sobre irregularidades em sua administração foram inúmeras, a ponto de terem levado o Congresso Nacional a instalar a primeira CPI sobre corrupção no Executivo –que acabou não produzindo resultados concretos.
Sarney no entanto foi também o presidente de mais alto índice de popularidade na história recente e não tão recente do país, no período em que o Plano Cruzado parecia ser capaz de produzir o milagre de uma inflação suíça com desenvolvimento japonês, conforme expressão que se cunhou à época.
Que imagem de Sarney terá guardado o eleitorado? A do Plano Cruzado, mais remota, ou a da inflação de 80% ao mês? A resposta só surgirá se o ex-chefe do Executivo conseguir vencer a prévia peemedebista e, assim, entronizar-se de fato como candidato presidencial.
A outra possível novidade é o senador Esperidião Amin (PPR-SC). O ex-governador de Santa Catarina não é tampouco um novato na política, mas a forte predominância do prefeito paulistano, Paulo Maluf, no PPR faz com que todos os demais nomes do partido sejam comparativamente obscuros. Com Maluf fora do páreo, Amin saltou da condição de candidato apenas a um governo estadual e de um Estado pequeno (Santa Catarina) para a de possível candidato presidencial.
Entre os nomes dos grandes partidos, destaca-se por ter algum sabor de novidade, o que pode ser útil, eleitoralmente, em face da visível desilusão da opinião pública com os políticos em geral.
Assim como ocorre no caso do PMDB, não está definido, no entanto, se Amin será ou não candidato. Com isso, são duas as incógnitas de razoável importância que restam a emprestar ainda mais incerteza ao quebra-cabeças eleitoral.

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