São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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A mídia no tribunal

CLÓVIS ROSSI

Erramos: 20/04/94

Diferentemente do que foi publicado neste artigo, o nome correto do repórter do jornal italiano "La Repubblica" é Luca Fazzo.
A mídia no tribunal
SÃO PAULO – Há alguma maneira de se evitar que a mídia, mesmo quando abastecida por informações de fontes supostamente qualificadas, continue violando o princípio básico do Direito, aquele que diz que todos são inocentes até prova em contrário?
Quando esteve em São Paulo, para o Fórum Folha, no ano passado, o repórter italiano Lucca Fazzolo ("La Reppublica") contou que, no caso da chamada "Operações Mãos Limpas", os jornais italianos fizeram um "pool". Só publicavam determinadas informações depois de devidamente checadas. Congelada a concorrência, dava tempo para fazer investigações que comprovassem (ou não) as denúncias.
À primeira vista, o mecanismo parece inaceitável, exatamente por distorcer o princípio, sempre saudável, da competição. Mas o objetivo, no caso, não é o de prejudicar o leitor mas o de impedir que inocentes acabem acusados precipitadamente. É uma hipótese a ser examinada pelos meios de comunicação.
Mas, pelo menos no caso das listas do bicho, não funciona. O jornal "O Globo" já decretou, em editorial de primeira página publicado sexta-feira, que a lista é autêntica e ponto final. A Folha, por intermédio de seu colunista Janio de Freitas, levanta dúvidas (fundamentadas, aliás) sobre a autenticidade de uma das duas listas (a datilografada, já que a manuscrita parece autêntica).
Ora, se entre os dois maiores jornais do país já há essa divergência no ponto de partida, como fazer um acordo que envolva todos os meios de comunicação? O fato é que a armadilha para a mídia está montada. Ou omite informações ou corre o risco de arrastar inocentes para a lama. Esse risco já esteve presente antes, ao longo da CPI do Orçamento, por exemplo. Ou no caso do abuso sexual contra crianças de uma escolinha de São Paulo, tema, aliás, tratado com perfeição, no domingo passado, pela ombudsman da Folha, Junia Nogueira de Sá.
Tem que haver alguma saída. Não adianta a mídia também, como em geral fazem os governantes, assobiar e olhar para o lado, como se não fosse com ela.

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