São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Como frear o populismo!

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Na semana passada, tive o prazer de almoçar com o ex-ministro da Fazenda da Nova Zelândia Roger Douglas, que veio a São Paulo para participar de um seminário sobre privatização.
Já conhecia suas idéias através da leitura de seus livros. Pelo seu ímpeto liberalizante, elas se assemelham muito às de Margareth Thatcher que, aliás, também esteve em São Paulo, há três semanas, quando confirmou a sua imensa crença na iniciativa privada como propulsora do desenvolvimento econômico e social.
A conversa com o mr. Douglas foi muito além da privatização. Encontrei-o no "lobby" do hotel, tentando decifrar a conta que acabara de pagar em URVs e na qual constava um valor diferente para cada dia que esteve ali hospedado. Tentei ajudá-lo. Para simplificar fui logo dizendo: pense em dólar. Aí, ele entendeu. Mas fez questão de acrescentar: este país está precisando de uma boa liderança –mas sem populismo.
O visitante, que está organizando um novo partido, deu uma idéia interessante para controlar o populismo. Na sua empreita, ele está introduzindo a seguinte prática para a próxima campanha eleitoral da Nova Zelândia. Toda vez que um candidato for à TV para dizer, por exemplo, que vai cortar o desemprego pela metade, ao seu adversário fica assegurado o direito de ir à mesma TV para saber do primeiro candidato "como" ele pretende atingir aquele objetivo.
Ou seja, todo candidato que fizer uma promessa, o outro exigirá que ele explique, ao povo, tim-tim por tim-tim, como isso será alcançado. Mr. Douglas acredita que, com o tempo, os próprios eleitores começarão a exigir esse "como" dos vendedores de promessas –tão comuns nas campanhas eleitorais.
Essa proposta cria um sistema de autocontrole do populismo. Como os candidatos são demandados a dizer como concretizarão suas propostas, o sistema tende a levá-los a evitar as promessas absurdas.
Muitos poderão argumentar que a Nova Zelândia é um país minúsculo. Ele tem apenas 3,5 milhões de habitantes e todos eles muito bem-educados. É verdade. A nossa realidade é bem diferente. O Brasil é país-continente; sua população é gigantesca; e a ignorância é amplamente distribuída.
Reconheço essas diferenças. Mas ainda assim penso que devemos, algum dia, iniciar uma assepsia das nossas campanhas eleitorais. Por que não começar este ano?
É muito fácil prometer mundos e cativar o voto dos eleitores através da manipulação de suas emoções. O difícil é realizar o prometido. Por isso, sugiro aos meus leitores que, na campanha que se aproxima, se preparem para perguntar aos candidatos, repetidas vezes, o "como" pretendem realizar o que prometem. Como? Como? Como? Chega de demagogia; chega de incompetência; chega de populismo. Já é hora de o povo parar para pensar, sem medo de fazer valer a sua própria opinião.

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