São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994 |
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quando a cidade vira ARTE por Claudia Moraes CLAUDIA MORAES
Apaixonado pelas metrópoles, Brissac fala da experiência artística que a cidade possibilita - Qual foi a inspiracão do projeto Arte/Cidade? - Acho que a metrópole permite uma experiência estética nova que supera os limites de cada linguagem, de cada mundozinho artístico. Na verdade, a cidade não é o assunto. Ela é a base que permite fazer cruzamentos, passagens, formas de articulacão. Na primeira exposição, construímos uma cidade no Matadouro Municipal. Vamos construir mais duas. - Como é o processo de criacão de cada módulo? - Os artistas se reúnem e vão discutindo seus trabalhos. No primeiro bloco, começamos sem ter espaço. Essa tensão da indefinição é a experiência da cidade, que é uma coisa movente, nunca assentada ou garantida. Muito da dinâmica dos trabalhos expostos nasceu da intensidade da experiência do embate direto com a cidade. É muito diferente de uma exposição que reúne trabalhos já feitos no aconchego do ateliê. - Como vai ser o próximo bloco? - Ele devera se chamar " A Cidade e seus Fluxos". Os Artistas convidados estão se reunindo desde janeiro. O primeiro bloco teve um local muito forte, o segundo vai ter um "deslocal". A exposição vai ser feita dentro de um CD-ROM que poderá ser acessado por terminais de computador espalhados em diversos pontos. A falta de local é o próprio assunto. O primeiro bloco era parado, inerte, pesado. O segundo fala da fluidez, da constante inquietação, do movimento. As próprias discussões entre os artistas encaminharam a exposição de uma localização específica para um espaço virtual, das comunicações rápidas. - Há planos para levar o segundo bloco para outros lugares? - gostaria de fazê-lo simutâneo em todo o Brasil, levando a lógica da cidade ao seu limite. Porque ela não tem fim, é uma coisa nebulosa que no fundo ocupa tudo. A gente poderia pensar o Brasil inteiro como uma grande cidade. - E o terceiro bloco? - "A Cidade e suas Histórias" deverá acontecer na estação Julio Prestes. A preocupação é com a poética da cidade, a história dos materiais, as lembranças. Será que ainda é ´possível contar histórias, numa cidade que perdeu o seu passado? - Você está falando de São Paulo ou de uma cidade qualquer? - Da cidade. Mas São Paulo é uma cidade arquetípica. Ela provoca as mais radicais experiências, que a gente vê só em partes em outras. Como ela, só Los Angeles e Tóquio. Nenhuma outra cidade do Brasil permitiria fazer o Arte/Cidade, não com tanta contundência. - Fala-se muito da supersaturação de informações decorrente da vida das cidades. O projeto não aprofunda este mal-estar? - A velocidade de comunicação faz que aparentemente qualquer novo gesto apenas acrescente mais sujeira, torne as imagens cada vez menos dotadas de sentido. Mas não existe mais a possibilidade de o artista subir numa colina, ver a cidade e pintá-la em seu cavalete. Esse horizonte que se descortina se perdeu para sempre. Aposto num olhar de dentro da cidade, não num olhar que se afasta dela. Trata-se de fazer do olhar cego e do olhar perdido pelo movimento formas de reconhecimento e de saber. O cego nos ensina a apalpar as coisas, o perdido nos ensina novos caminhos. Eles são os dois grandes personagens do Arte/Cidade. Texto Anterior: O caçador de LEÕES Próximo Texto: Monstro faz rir com Latorraca Índice |
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