São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Papo de bordo com Parreira e Zagalo

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a força do destino colocou-me ao lado do técnico Carlos Alberto Parreira e de seu auxiliar, Mário Lobo Zagalo, no vôo de volta de Paris, anteontem.
Como esta coluna nunca poupou críticas ao esquema de jogo do treinador, torna-se eticamente indispensável reproduzir, aqui, neste mesmo espaço, a defesa de Parreira feita por ele mesmo.
Em primeiro lugar, Parreira e Zagalo me perguntam se falo sério quando peço os cinco atacantes (agora quatro, com um de seus titulares correndo em outros campos, talvez melhores...).
Explico-lhes que a idéia não é a de cinco atacantes fixos. Diante da crise do meio-de-campo (evidenciada no último jogo) o ideal seria colocar habilidosos atacantes para exercer a tarefa.
Mesmo quando se escalava, até os anos 60, cinco atacantes, em realidade, apenas três eram atacantes fixos: os dois pontas e o centroavante. O meia-esquerda e o meia-direita construíam mais as jogadas.
Carlos Alberto Parreira disse que não veria inconveniente no esquema se existissem nomes para executá-los. E ele não os vê nem nos nomes do meu ataque, nem no futebol brasileiro.
Segundo ele, os jogadores apontados, já de longa data desobrigados a voltar para ocupar os espaços, não conseguiram executar estas tarefas suplementares de jogo, a partir de agora.
Zagalo diz que as teses precisam ser provadas dentro de campo. Para o tricampeão mundial, os cinco atacantes não têm nem sequer condições orgânicas (físicas) de voltar para marcar.
Parreira afirma que o ideal seria encontrar homem que façam as três operações –destruir, construir, finalizar–, mas que nem sempre eles estão disponíveis.
Lembra, por exemplo, a seleção argentina de 1978, que acabou achando um especialista para cada função: um destruidor, um aramdor e um finalizador (Kempes, que acabou artilheiro da Copa).
Para o técnico brasileiro, a seleção já encontrou o destruidor (ou destruidores, Dunga e Mauro Silva) e os finalizadores (Romário e Bebeto). Falta(m) o(s) construtor(es).
"É por isto que eu insistia tanto no Raí", diz Parreira, usando o tempo verbal de uma ação passada. Porque ele é o jogador com as características dos nossos grandes meio-campistas do passado.
No setor, Parreira parece ter em mira a possibilidade de contar com o Paulo Sérgio: "Precisamos prestar muita atenção nos jogadores que dão certo na Alemanha", afirma.
Segundo o técnico da seleção, alguns jogadores sentiram a falta do segundo volante durante o jogo contra o combinado Paris Saint-Germain/Bordeaux.
"Eu acho que é esta discussão que deve voltar agora: devemos jogar com um ou com dois volantes? A partida de Paris dá bastante material para se discutir esta questão", disse.
No combinado que jogou contra o Brasil, Parreira gostou bastante de Lizarazu, que entrou para parar o Cafu, do holandês Witschge e do brasileiro Márcio Santos.
Ele também acha que o time de Camarões, adversário do Brasil, evoluiu muito nas mãos do técnico francês Henri Michel. "Eles aprenderam a jogar no contraataque e têm bons atacantes", diz.
A) Cafu, que tem pecado nos cruzamentos (observação minha), não entrará como titular (só será usado na hipótese de contusão de alguém).
B) Branco deverá ser titular não tanto pelo futebol, mas pela experiência acumulada, algo que Parreira considera fundamental em uma Copa do Mundo.

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