São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994 |
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RAMONES
MARCEL PLASSE
Por telefone, de sua casa em Nova York, o vocalista Joey Ramone definiu o público brasileiro como totalmente "loco". A expressão tem duplo sentido. Os shows da banda no Brasil costumam atrair violência. Joey também falou sobre a cena "alternativa", o início do punk rock, o disco de covers ("Acid Eaters") e o fim dos Ramones. Folha - A violência que cerca os shows dos Ramones no Brasil é pior do que em outros países? Joey Ramone – Nunca vimos violência como no grau brasileiro. Quer dizer, alguém foi assassinado a facadas! E na última vez, um grupo skinhead jogou bombas de gás lacrimogênio na platéia. Sabe, finalmente estávamos tocando no Rio, e fizemos o show até o fim , apesar de tudo. Qualquer outro teria ido embora. Mas não fazemos essa linha: "são animais, nunca mais vamos voltar lá". A maioria da molecada do Brasil é legal. Espero que, desta vez, não haja problemas. Folha – A participação de Sebastian Bach (vocal do Skid Row) no novo disco causou controvérsias. Foi uma retribuição - pelo Skid row ter gravado uma música dos Ramones? Joey A razão foi comercial. A gravação de "Psychotherapy", pelo skid Row, foi disco de ouro (500 mil cópias vendidas nos RUA). A ironia é que Ramos nunca recebeu disco de ouro. Na verdade, "Mondo Bizarro" foi disco de ouro no Brail ( o critério brasileiro é 100 mil cópias) e na Argentina. É curioso que nossos primeiros discos de ouro venham da América do Sul. Ao menos, agora, tenho discos de ouro para pendurar no banheiro. Folha – Até que ponto foi a participação da ex-ninfeta pornô Trace Lords no disco? Joey - Foi muito "cool" e dada (cai na risada) Folha - O que você nunca vai esquecer da turnê inglesa de 76, um dos primeiros eventos do movimento punk? Joey - Foi a primeira vez que lotamos uma casa que não fosse o (clube) CBGB de Nova York. Depois do show, uns garotos chegaram e disseram que a gente era a única razão de eles terem montado bandas. Eram Johnny Rotten, do Sex Pistols, Joe Strumer, do Clash, gento do Jham, do Dammed... Quando voltamos a Londres, em 77 todos eles tinham lançado discos. Foi demais ver que tínhamos sido os catalisadores de tudo. Sex Pistols e The clash, basicamente, adaptaram o som da guitarra de Johnny Ramone para criar o punk rock deles. Folha - O que você acha das bandas "alternativas" da MTV? Joey - A MTV diz que é muito liberal, inovadora, mas demonstra o oposto, divulgando as bandas mais conservadoras. Vendem Pearl Jam e Stone Temple Pilots como "alternativos". É uma hipocrisia. Pouca gente me agrada entre os "alternativos" . Livro King Missile, Breeders e Frank Black, com quem acabamos de excursionar. Mas não gosto de quem parece uma má cópia de outra banda. O rock'and'roll não é mais o que costumava ser. O que aconteceu com a rebelião revolucionária? Hoje, o gosto da juventude americana está diluído. Quem hoje vai num show dos Ramones, amanhã vai ver Mariah Carey. Folha - O que nos traz a Stone Temple Pilots, que tocaria com Ramones no Brasil. Joey - Eu costumava odiá-los há um tempo. Eles têm um cara com os cabelos pintados de laranja como Jonny Rotten. Sabe como é: tentam ser uma banda punk, mas são completamente comerciais. mas acho que me fizeram lavagem cerebral, porque estou gostando mais deles do que costumava. Talvez seja só a lavagem cerebral. Folha - como você reagiu à morte de Kurt Cobain? Joey - Detesto dizer isso, mas sabia que ele ia se matar. Na verdade quando ouvi a notícia, fiquei chocado. Escrevi para o pessoal do Nirvana, para dar força. Uma coisa que posso dizer sobre Nirvana: eles eram reais. Kurt Cobain significava problemas, e isso impregnava sua música. É triste, mas o que o inspirava foi o que o matou. Folha - Se Ramones terminasse amanhã, que legado deixaria? Joey - Acho que os Ramones mudaram a face da música de maneira definitiva. Espero que as coisas continuem evoluindo, e que nunca mais tenhamos que passar pela "disco music" novamente. Em breve, vamos mesmo pendurar as chuteiras. A banda existe há 20 anos. Embora esteja no auge como banda de shows, talvez encerremos a carreira no próximo disco em estúdio, em dois anos. Mas vamos sair de cena cobertos de glória. Não vamos morrer, mas deixar o palco, no nosso último show, voando. Texto Anterior: FICHA TÉCNICA Próximo Texto: Pássaros usam 'ímãs', estrelas e o sol para atravessar os continentes Índice |
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