São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RAMONES

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O grupo Ramones volta a são Paulo, pela quarta vez, dias 10 e 11 de maio. a banda toca no Olympia (rua Clélia, 1.517. tel; (011) 864-7333). O Stone Temple Pilots, que abriria o show, cancelou a vinda..
Por telefone, de sua casa em Nova York, o vocalista Joey Ramone definiu o público brasileiro como totalmente "loco".
A expressão tem duplo sentido. Os shows da banda no Brasil costumam atrair violência.
Joey também falou sobre a cena "alternativa", o início do punk rock, o disco de covers ("Acid Eaters") e o fim dos Ramones.

Folha - A violência que cerca os shows dos Ramones no Brasil é pior do que em outros países?
Joey Ramone – Nunca vimos violência como no grau brasileiro. Quer dizer, alguém foi assassinado a facadas! E na última vez, um grupo skinhead jogou bombas de gás lacrimogênio na platéia.
Sabe, finalmente estávamos tocando no Rio, e fizemos o show até o fim , apesar de tudo.
Qualquer outro teria ido embora. Mas não fazemos essa linha: "são animais, nunca mais vamos voltar lá". A maioria da molecada do Brasil é legal. Espero que, desta vez, não haja problemas.
Folha – A participação de Sebastian Bach (vocal do Skid Row) no novo disco causou controvérsias. Foi uma retribuição - pelo Skid row ter gravado uma música dos Ramones?
Joey A razão foi comercial. A gravação de "Psychotherapy", pelo skid Row, foi disco de ouro (500 mil cópias vendidas nos RUA). A ironia é que Ramos nunca recebeu disco de ouro.
Na verdade, "Mondo Bizarro" foi disco de ouro no Brail ( o critério brasileiro é 100 mil cópias) e na Argentina. É curioso que nossos primeiros discos de ouro venham da América do Sul.
Ao menos, agora, tenho discos de ouro para pendurar no banheiro.
Folha – Até que ponto foi a participação da ex-ninfeta pornô Trace Lords no disco?
Joey - Foi muito "cool" e dada (cai na risada)
Folha - O que você nunca vai esquecer da turnê inglesa de 76, um dos primeiros eventos do movimento punk?
Joey - Foi a primeira vez que lotamos uma casa que não fosse o (clube) CBGB de Nova York.
Depois do show, uns garotos chegaram e disseram que a gente era a única razão de eles terem montado bandas. Eram Johnny Rotten, do Sex Pistols, Joe Strumer, do Clash, gento do Jham, do Dammed...
Quando voltamos a Londres, em 77 todos eles tinham lançado discos. Foi demais ver que tínhamos sido os catalisadores de tudo.
Sex Pistols e The clash, basicamente, adaptaram o som da guitarra de Johnny Ramone para criar o punk rock deles.
Folha - O que você acha das bandas "alternativas" da MTV?
Joey - A MTV diz que é muito liberal, inovadora, mas demonstra o oposto, divulgando as bandas mais conservadoras. Vendem Pearl Jam e Stone Temple Pilots como "alternativos". É uma hipocrisia.
Pouca gente me agrada entre os "alternativos" . Livro King Missile, Breeders e Frank Black, com quem acabamos de excursionar. Mas não gosto de quem parece uma má cópia de outra banda.
O rock'and'roll não é mais o que costumava ser. O que aconteceu com a rebelião revolucionária?
Hoje, o gosto da juventude americana está diluído. Quem hoje vai num show dos Ramones, amanhã vai ver Mariah Carey.
Folha - O que nos traz a Stone Temple Pilots, que tocaria com Ramones no Brasil.
Joey - Eu costumava odiá-los há um tempo. Eles têm um cara com os cabelos pintados de laranja como Jonny Rotten. Sabe como é: tentam ser uma banda punk, mas são completamente comerciais.
mas acho que me fizeram lavagem cerebral, porque estou gostando mais deles do que costumava. Talvez seja só a lavagem cerebral.
Folha - como você reagiu à morte de Kurt Cobain?
Joey - Detesto dizer isso, mas sabia que ele ia se matar. Na verdade quando ouvi a notícia, fiquei chocado. Escrevi para o pessoal do Nirvana, para dar força.
Uma coisa que posso dizer sobre Nirvana: eles eram reais. Kurt Cobain significava problemas, e isso impregnava sua música. É triste, mas o que o inspirava foi o que o matou.
Folha - Se Ramones terminasse amanhã, que legado deixaria?
Joey - Acho que os Ramones mudaram a face da música de maneira definitiva. Espero que as coisas continuem evoluindo, e que nunca mais tenhamos que passar pela "disco music" novamente.
Em breve, vamos mesmo pendurar as chuteiras. A banda existe há 20 anos. Embora esteja no auge como banda de shows, talvez encerremos a carreira no próximo disco em estúdio, em dois anos.
Mas vamos sair de cena cobertos de glória. Não vamos morrer, mas deixar o palco, no nosso último show, voando.

Texto Anterior: FICHA TÉCNICA
Próximo Texto: Pássaros usam 'ímãs', estrelas e o sol para atravessar os continentes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.