São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Prorrogada a eleição sul-africana

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

A primeira eleição multirracial da África do Sul, programada para durar de terça a ontem, será estendida até hoje em seis áreas. Elas são antigos territórios negros supostamente autônomos.
A decisão foi tomada pelo governo a pedido da CEI (Comissão Eleitoral Independente, uma espécie de TSE sul-africano), em função de problemas logísticos surgidos desde o primeiro dia.
Ontem eles se reduziram, mas não o suficiente para que todos os eleitores tivessem chance de votar.
O quarto dia de votação será apenas em Ciskei, Transkei, Venda, Gazankulu, Lebowa e KwaZulu –a região onde vive a maioria dos 8,3 milhões de zulus, a maior etnia sul-africana.
Pelos discutíveis números oficiais, moram nessas áreas cerca de 14 milhões de pessoas (35% da população total).
A decisão de estender o período de votação, somada a um extraordinário esforço logístico, parece ter contornado o risco de crise aberto pela ameaça do líder zulu Mangosuthu Buthelezi de abandonar o processo eleitoral.
"A África do Sul precisa de uma eleição que seja legítima. Se não for assim, o resultado seria não o início da reconciliação, mas de novos conflitos", disse o presidente Frederik de Klerk.
As gráficas desovaram 8 milhões de cédulas com o nome e o símbolo do Partido da Liberdade Inkatha e a foto de Buthelezi.
Nos 80 milhões de cédulas previamente impressas faltava o Inkatha, porque Buthelezi só decidiu disputar o pleito na terça-feira da semana passada.
Em consequência, a CEI foi obrigada a imprimir adesivos que os mesários colariam às cédulas já distribuídas por todo o país.
Essa operação revelou-se um fiasco quase total, o que gerou a ameaça de Buthelezi de abandonar o jogo eleitoral. Isso poderia levar ao reinício dos conflitos cruentos dos últimos meses.
"Acredito que a impressão das cédulas resolveu a crise que estava diante de nós", disse Buthelezi.
A falta de adesivos foi apenas um dos problemas. O maior mesmo foi a subestimação do número de negros na população total, admitida ontem pela CEI.
O número de eleitores baseou-se em um questionado censo populacional. No subúrbio negro de Kathelong, por exemplo, ele foi feito de helicóptero. Contou-se o número de casas e deu-se a cada uma um número aleatório de residentes.

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