São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Novo governo terá brancos e negros

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A partir de 10 de maio, quando toma posse o novo presidente sul-africano, representantes dos brancos e dos negros passarão a conviver no mesmo governo, constitucionalmente definido como Governo de Unidade Nacional.
O presidente será do partido majoritário, certamente o CNA (Congresso Nacional Africano) e, por extensão, Nelson Mandela.
Mas os partidos que obtiverem 20% ou mais dos votos terão direito a um vice-presidente. Supõe-se que apenas o Partido Nacional, do presidente De Klerk, superará essa barreira, além, é claro, do CNA.
Os 27 ministérios serão preenchidos, proporcionalmente aos votos obtidos, pelos partidos que tiverem 5% ou mais dos votos. Por fim, na Assembléia Nacional, tomarão assentos representantes de todos os partidos que forem além de 0,25% da votação nacional.
A dúvida é saber se o CNA obterá 67% das cadeiras na Assembléia Nacional, que será, ao mesmo tempo, um Legislativo ordinário e uma Assembléia Constituinte.
Se fizer 67%, o CNA poderá desenhar a nova Constituição, pois esse é o quórum para aprová-la.
Por enquanto, o CNA revela boa vontade para que a convivência no governo seja pacífica.
Sua cúpula quer convidar para o governo o general Constand Viljoen, líder da Frente da Liberdade, único grupo da extrema-direita branca participando da eleição.
Mesmo que a Frente de Viljoen não consiga os 5% necessários para ter assento obrigatório no governo, o general será convidado.
Viljoen foi chefe das Forças de Defesa, a principal inquietação do CNA para o futuro imediato.
Tanto as Forças de Defesa como a polícia têm uma cúpula quase exclusivamente branca. O CNA tem escassa confiança nessa cúpula.
A suspeita é a de que parte das forças de segurança esteja associada ao terrorismo, uma suspeita reforçada pelo fato de que, entre os 32 terroristas presos anteontem, dois eram da polícia.
É óbvio que Viljoen, por ter sido chefe das Forças Armadas, mantém contatos valiosos e pode ajudar a desmontar eventuais focos de resistência nessa área.
Em troca, Viljoen há de querer ao menos aprofundar a discussão em torno do "Volkstaat" (um Estado para os brancos).
A Constituição provisória autoriza a criação de um Conselho para o "Volkstaat".
Entre o Conselho e um Estado autônomo ou totalmente independente, há um abismo, mas o desejo de ter Viljoen aliado ao novo governo facilita a discussão.(CR)

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