São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Toda discussão é bem-vinda, diz curador

DA REPORTAGEM LOCAL

Nelson Aguilar, 48, curador da Fundação Bienal, diz que a "Bienal Brasil Século 20" está cumprindo uma de suas funções ao provocar polêmicas. "Antes dessa mostra estava uma pasmaceira. Agora as discussões estão começando", afirma.
Ele refuta as acusações de exclusão e má representação feitas pela marchande Regina Boni.
"Não queremos esgotar a arte brasileira, é só uma proposta de leitura. O Nietzsche dizia que não há fatos, só versões. A 'Bienal Brasil' é uma das versões possíveis da história da arte brasileira", argumenta, referindo-se ao filósofo alemão do século passado.
Sobre a ausência da fase antropofágica de Tarsila do Amaral, por exemplo, Aguilar diz que foi um recorte proposital.
"Tentamos mostrar o lado menos heróico do modernismo e evitamos as figuras carimbadas", diz.
Aguilar afirma que o segmento do modernismo preferiu frisar artistas menos conhecidos, como Aldo Malagoli e João José Rescala.
"Curador tem que ter liberdade para escolher", defende. "Se não, eu faria uma estatística com as obras preferidas dos críticos e montaria uma exposição numismática, sem idéias".
Aguilar concorda que a obra de Hélio Oiticica está mal representada. "O problema é que os trabalhos dele estão viajando pelos EUA. Mas vamos mostrar penetráveis inéditos na 22ª Bienal", diz.
O curador da Bienal afirma não ver fundamento na acusação de "'fascismo" do artista plástico Antonio Henrique Amaral.
"Toda exposição cria automaticamente seu salão de recusados. Não dá para pôr todo mundo. Mas não é fascista porque tem um curador respondendo pela escolha. Fascismo é quando ninguém assina".
Cacilda Teixeira da Costa, 53, uma das curadoras do segmento "Anos 60 e 70", diz que Frans Krajcberg foi procurado e se recusou a participar.
"Ele teve um problema com a Bienal há 15 anos e jurou nunca mais pôr o pé ali. Disse que não emprestaria obras e, se alguma colecionador emprestasse, ele destruiria o trabalho", conta Cacilda.
A Folha tentou falar com Krajcberg durante os últimos três dias. Ele não respondeu os telefonemas nem o fax enviado à sua casa.
Aguilar não é o único a defender as obras escolhidas. "É a mostra mais audaciosa que se fez no Brasil. É a exposição do século", diz a marchande Luisa Strina, 50.
O artista plástico Wesley Duke Lee, 62, assina embaixo. Segundo ele, só pelas discussões que está provocando, a "Bienal Brasil" já mudou a história da arte brasileira.

Título: Bienal Brasil Século 20
Onde: Pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera, telefone 011-574-5922, zona sul de São Paulo)
Quando: de terça a sexta, das 14h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 21h
Quanto: 2 URV e 1 URV (estudante com carteirinha da UNE ou Ubes)

Texto Anterior: Barbara Hendricks vai visitar duas favelas no Rio de Janeiro
Próximo Texto: A LISTA DOS EXCLUÍDOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.