São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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Sem educação, reforma ficará `capenga'

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O período da tarde do Seminário Internacional foi dominado pelo conceito de Qualidade Total. Não no âmbito da empresa, mas de um país inteiro. Tema: mercado, relações de trabalho e educação.
As duas palavras não chegaram a ser ditas, mas resumem o consenso: investir em treinamento nas empresas é bom, mas não basta.
Se o objetivo é competitividade no mercado internacional, todo o sistema educacional precisa melhorar. O operário do século 21 precisa saber ler e escrever bem, organizar-se, criar, decidir.
Para João Furtado, coordenador da parte sobre "fundamentos sociais da competitividade" do estudo do Ministério de Ciência e Tecnologia, a chave é a adesão social.
A qualidade só predominará "se os atores estiverem de acordo com o processo", disse. Se a competitividade for entendida apenas como aumento da participação no mercado externo, excluindo o mundo do trabalho dos benefícios, fracassará.
Muitos empresários ainda acreditam em suprir os requisitos educacionais da mão-de-obra elevando os padrões de recrutamento, alertou Cláudio Salm, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com isso, perdem a noção da importância da rede pública de ensino.
Igualmente fundamentais para a competitividade, a longo prazo, são o ambiente de negociação e a estabilidade no emprego. "Se a qualificação é a capacidade de influir no processo, é lógico que ela é incompatível com o autoritarismo empresarial", disse Salm.
Em resumo, a competitividade exige mais e melhor educação. Não só por questão de justiça social, mas por razões econômicas.
A regra é válida para o ensino profissional como para o básico. As demandas da indústria moderna começam pelas habilidades básicas e terminam pela especialização.
Para Claudio de Moura Castro, economista do Banco Mundial (que participou do encontro em caráter privado), a primeira consequência é adiar a formação profissional. O futuro operário precisa de educação formal mais longa.
Segunda consequência: a formação adquire conteúdo muito mais teórico. Sem ela, o trabalhador dificilmente poderá ler e entender os manuais cada vez mais complexos.
Moura e Castro não vê nessas mudanças uma revolução, da linha de montagem fordista para a participação toyotista. "O operário do futuro é a evolução do operário do presente", disse.
O que não chega a ser uma discordância do alerta de Salm: depois de uma "absorção capenga" do fordismo (sem distribuição dos ganhos de produtividade), o Brasil, sem educação, corre o risco de repeti-la com o toyotismo.

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