São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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Empresas aprendem a conviver com a Aids

Curso ensina a lidar com funcionário portador do vírus

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes de 117 empresas públicas e privadas pagaram US$ 500 para aprender a lidar com a Aids entre seus funcionários. Foi o primeiro seminário internacional sobre o tema no Brasil, que aconteceu ontem em São Paulo.
O sucesso do seminário revela uma mudança de postura diante da doença. Mas o número de empresas preocupadas ainda é pequeno.
Pelas estimativas do Ministério da Saúde –que avalia em 500 mil o número de portadores do HIV no país–, um em cada 300 brasileiros estaria contaminado.
Isso significa que, apenas no setor industrial paulista, mais de 1.500 empresas já têm pelo menos um portador do vírus entre seus empregados –sem contar empresas prestadoras de serviço, comércio e o serviço público.
A Shell do Brasil, com 2.600 funcionários, tem sete casos confirmados, entre portadores e doentes. Desde 88, a empresa adota uma política com relação à Aids.
No início do ano, a Shell decidiu revelar aos funcionários o número de casos. "A intenção é incentivar quem sabe ou desconfia que é soropositivo a procurar ajuda da empresa", disse Marcos Tucherman, médico da companhia.
Em troca, a Shell garante sigilo absoluto, tratamento e medicação. Atitudes como esta, impensáveis oito anos atrás, já são seguidas por várias empresas –principalmente estatais e multinacionais.
A Autolatina, com 48 mil funcionários, tem 185 casos da doença. Michel Polity, médico da montadora, diz que os doentes são mantidos pelo próprio plano de saúde da empresa.
A Caixa de Assistência dos 125 mil funcionários do Banco do Brasil vem arcando com as despesas hospitalares e de medicamentos dos 230 doentes da rede.
O tratamento de cada paciente custa entre US$ 15 mil e US$ 30 mil. O médico Drauzio Varella, coordenador do seminário, disse que as empresas devem investir em prevenção para evitar despesas com a doença.
O CRT-Aids, Centro de Referência e Treinamento da Secretaria da Saúde, mantém desde 88 cursos de treinamento para empresários. "Mais de 600 empresas já participaram", diz Ana Carolina Isler Ferreira, do CRT-Aids.
Na prática, muitas empresas fazem exames anti-HIV para admitir funcionários, o que é proibido por lei. Outras demitem o empregado quando sabem da doença. Na Justiça, estas empresas são derrotadas.
Só em São Paulo, há cerca de 200 ações ganhas por funcionários em primeira instância. Pelo menos um empregado demitido já ganhou o direito de voltar ao emprego em segunda instância.
Para convencer os empresários brasileiros, a empresa de consultoria Mavicman, que organizou o seminário, trouxe três especialistas dos EUA. Lá, as empresas estão adotando políticas de prevenção de Aids há pelo menos oito anos.
No Brasil, Drauzio Varella já sugeriu às empresas que juntem ao contracheque um envelope de camisinha. Ninguém aceitou a idéia. Agora o médico está contando com um gibi para convencer os trabalhadores a não usar drogas injetáveis e a utilizarem camisinha.
Os artistas Paulo Garfunkel e Líbero Malavoglia escreveram e desenharam o gibi. Nele, o personagem Vira-Lata, um conquistador, só transa de preservativo.
Aguarda-se agora que as empresas se interessem pelo gibi.

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