São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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`Morte série B' indigna médico

FLAVIO GOMES
DO ENVIADO ESPECIAL

Os dois legistas que fizeram a autópsia em Ayrton Senna, ontem de manhã, em Bolonha, têm personalidades diversas.
Um deles, Michele Romanelli, é extrovertido, adora o Brasil e costuma passar as férias no Rio. Fala até algumas palavras de português.
O outro, Pierludovico Ricci, é um dos mais importantes legistas do país e também um dos professores mais respeitados de medicina legal do norte da Itália.
Romanelli, 47, é encarregado da formalização dos laudos e relatórios. Ele deve ser o redator final do documento, que estará pronto em no máximo 60 dias.
Ricci, 75, dirige a Escola de Especialidade de Medicina Legal da Universidade de Bolonha e ainda dá aulas. Ontem, depois das duas autópsias realizadas no IML –nos corpos de Roland Ratzenberger e Ayrton Senna–, foi ao encontro de seus alunos.
Ricci não usa luvas quando trabalha. Os estudantes costumam dizer que ele "não acredita em vírus". Quando chegou à classe, ontem, no próprio prédio do Instituto Médico Legal, estava com as mangas de seu avental ainda sujas de sangue.
O tema da aula foi "ética na medicina". Ele estava indignado com a diferença de comportamento das pessoas com quem conversou nestes dias –todas falando de Senna, nenhuma de Ratzenberger.
"Uma vida é uma vida", proclamou o professor. Para ele, o que se viu em Bolonha foi uma demonstração do que há "uma morte série A e uma morte série B". E pediu aos estudantes que jamais em suas carreiras façam qualquer diferenciação entre pacientes ricos e famosos de outros pobres e desconhecidos.
(FG)

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