São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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Morte de Senna foi instantânea, segundo conclusão da autópsia

FLAVIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL A BOLONHA

Ayrton Senna teve morte cerebral instantânea no acidente de domingo em Imola, na sétima volta do GP de San Marino de F-1.
Essa foi a conclusão dos legistas que ontem fizeram a autópsia no corpo do brasileiro, piloto da equipe Williams. Os dirigentes da F-1 souberam que ele havia morrido antes de reiniciar a corrida, meia hora depois do acidente.
Quando o piloto foi retirado do carro, já não tinha mais pulsação e a circulação sanguínea estava praticamente interrompida.
A batida no muro, às 14h12 locais, provocou fraturas múltiplas na base do crânio, grave insuficiência respiratória, afundamento frontal, ruptura da artéria temporal e hemorragia nas vias aéreas.
Segundo o médico Giovanni Gordini, da unidade de reanimação do hospital Maggiore, de Bolonha, Senna chegou do circuito às 14h44 com o coração batendo com o auxílio de equipamentos.
Legalmente, o piloto não deixou a pista morto, porque não era possível avaliar no circuito se havia morte cerebral.
Na Itália, uma pessoa só é considerada legalmente morta quando há morte cerebral –indicada por um eletroencefalograma (espécie de exame) plano.
Sua "morte legal" só ocorreu às 18h42. Mas desde o impacto já não havia a menor chance de sobreviver.
O médico-chefe da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Sid Watkins, avisou pelo rádio que Senna estava morto ao presidente da Foca (Associação dos Construtores de F-1), Bernie Ecclestone.
Leonardo Senna, irmão do piloto, Celso Lemos, diretor das empresas de Senna no Brasil, e Beatris Assumpção, sua assessora de imprensa, foram até a torre de controle. Bernie os levou para o motorhome (caminhão) da Foca.
Entrou com Leonardo, que fala mal inglês, e Beatris. Disse ao irmão de Senna para "esperar o pior". "Ele está morto. Mas nós só vamos anunciar isso quando ele chegar ao hospital." Leonardo começou a chorar na hora.
Martin Whitaker, assessor de imprensa da FIA, tentou consertar o estrago. Bernie disse, em inglês: "He is dead". Whitaker se apressou em reformular a sentença dizendo que a palavra era "head" (cabeça) e não "dead".
Daí o primeiro comunicado oficial, afirmando que o piloto tinha sofrido "contusões na cabeça".
Beatris relatou o diálogo em um longo telefonema para o escritório de Senna em São Paulo.
A atitude de Ecclestone tem uma explicação financeiro-jurídica. Se os dirigentes admitissem que ele estava morto no autódromo, a corrida não poderia ser reiniciada.
Era prejuízo na certa, diante dos patrocinadores e das emissoras de TV que transmitiam o GP. As leis italianas obrigam a imediata interdição dos locais onde acontecem mortes em acidentes.
No sábado, acontecera o mesmo com Roland Ratzenberger, piloto austríaco da Simtek. A autópsia feita ontem concluiu que ele morreu instantaneamente na batida no muro da curva Villeneuve.
Em nenhum momento, segundo os legistas, foi trazido de volta à vida com massagens cardíacas ou aparelhos, como Senna. Saiu do circuito morto e foi dado como tal oito minutos depois de chegar no hospital. Se fosse informada disso, a Justiça Italiana poderia impedir a realização da corrida.

LEIA MAIS
Sobre a morte de Senna nas págs. 3 a 8

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