São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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`Bienal Brasil' quer `recuperar' nomes

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sheila Brannigan. Navarro da Costa. João Fahrion. Miguel Bakun. Ado Malagoli. Guido Viaro. Nomes esquisitos e desconhecidos. Para Nelson Aguilar, não mais.
O curador da "Bienal Brasil Século 20", a mostra de arte brasileira no Pavilhão da Bienal, acha que esses seis nomes agora vão ter de constar de qualquer história digna da arte nacional.
"A exposição faz crescer alguns artistas. Sheila Brannigan, por exemplo, é uma artista fundamental em qualquer país", diz. E não teme chamá-la de gênio (veja biografias ao lado).
Desde sua abertura, no dia 24 de abril, a "Bienal Brasil" gerou um concurso de "name dropping" –da arte de despejar nomes.
Nomes de artistas que teriam sido excluídos, injustiçados ou supervalorizados tomaram conta de conversas e entrevistas.
"É muito fácil citar nomes que faltaram", diz Aguilar. "Mais difícil é analisar por que alguns foram esquecidos."
A Folha conversou com alguns especialistas em arte brasileira. Dentre os nomes que a curadoria diz ter recuperado, a unanimidade ficou para o de Sheila Brannigan.
"Ela realmente merecia a lembrança", diz o marchand Peter Cohn, da Dan Galeria. "Ela fazia um abstracionismo informal de alta qualidade."
"Sheila Brannigan, assim como Yolanda Mohalyi, é uma artista de fato esquecida, que a Bienal fez bem em lembrar", diz o colecionador Gilberto Chateaubriand.
Para o livreiro Pedro Corrêa do Lago, representante da Sotheby's (casa de leilões com sedes em Londres e Nova York), os seis artistas "são de categoria".
"Mas a recolocação mais importante é sem dúvida a de Sheila Brannigan", acrescenta.
Outro nome que é apontado como "bem lembrado" –embora em menor grau que Brannigan– é João Fahrion. "Foi uma lembrança válida. Fahrion era um bom artista", diz Chateaubriand.
Corrêa do Lago lembra que Fahrion era mais conhecido como "ilustrador brilhante", e não pintor. "A exposição revelou que sua pintura é muito interessante também", diz.
Navarro da Costa também merecia estar na exposição, mas ele, ao contrário de Brannigan e Fahrion, não chega a configurar um caso de "recuperação" –é o que dizem os especialistas.
"Navarro era um pintor competente, só isso", diz Corrêa do Lago. "Era um impressionista tardio, que fazia telas bonitas."
"A condição dele era interessante", diz Cohn. "Como diplomata, pintou em vários lugares em épocas importantes. Mas não era um grande artista não."
Miguel Bakun também é uma lembrança que tem mais a ver com o contexto histórico que com o mérito próprio.
"Ele era paranaense, e é interessante que se saia do eixo Rio-São Paulo, pois é uma exposição sobre arte nacional", diz Cohn.
Para Aguilar, Bakun é uma "descoberta muito grande" da exposição. Mas, para Chateaubriand, "é evidente que ele foi um pintor secundário".
"Secundário" é uma qualificação que Guido Viaro e Ado Malagoli também poderiam receber por parte dos especialistas. Malagoli principalmente.
"Tenho dúvidas até sobre a inclusão dele", diz Corrêa do Lago. "Mas há muitos na exposição do mesmo nível que ele."

Título: Bienal Brasil Século 20
Onde: Pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo)
Quando: até 29 de maio
Quanto: 2 URVs e 1 URV (estudantes com carteirinha da UNE ou Ubes)

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