São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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Partido de De Klerk vence no Cabo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Partido Nacional, do presidente sul-africano Frederik de Klerk, venceu as eleições no Cabo Ocidental. O atual ministro da Lei e da Ordem, Hernus Kriel, será o primeiro-ministro da província.
O partido que institucionalizou e depois desmantelou o apartheid só deve vencer nessa província.
O último boletim das apurações, divulgado às 13h de Brasília, dava o CNA na frente com 7,42 milhões de votos em todo o país (62,5%). Em segundo lugar estava o PN, com 2,62 milhões de votos (22,1%). Cerca de 50% dos votos haviam sido apurados.
O partido zulu Inkatha tem 985 mil votos (8,3%), mas vencia na província de Natal com 55% contra 32% do CNA. Em Natal, a população é majoritariamente zulu. Apenas 25% dos votos haviam sido contados em Natal.
A Frente da Liberdade, dos brancos que querem uma nação separada, tinha 2,7% dos votos em todo o país.
No Cabo, Kriel venceu Alan Boesak, um dos mais destacados líderes do Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela.
O PN teve muitos votos da comunidade que a legislação do apartheid classificava como "coloured". São descendentes de etnias que já estavam na região quando os holandeses chegaram, em 1652. Eles sempre tiveram mais direitos do que os negros.
Os negros do país descendem de etnias de língua bantu que chegaram à África do Sul no século 18. Boesak era classificado como "coloured", sob o apartheid.
A posse do novo Parlamento sul-africano foi adiada de sexta-feira para segunda-feira. A contagem dos votos está atrasada.
A comissão eleitoral garante, no entanto, que a posse de Mandela como primeiro presidente negro da África do Sul acontecerá na terça-feira como previsto. Mandela será eleito formalmente na segunda-feira pelo Parlamento.
Cerca de 42 chefes de Estado vão assistir a posse. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, representará o Brasil.
O vice-presidente dos EUA, Al Gore, assistirá a cerimônia junto com Hillary Clinton, mulher do presidente Bill Clinton.
A Comissão Eleitoral Independente decidiu suspender a divulgação ininterrupta da apuração dos votos. A medida visa acelerar a contagem, segundo o porta-voz da comissão, Pieter Cronje.
Mandela convidou o general Constand Viljoen para um cargo no governo de coalizão que chefiará. Viljoen é líder dos separatistas brancos. O general recusou.
O acordo para as eleições previa que qualquer partido com pelo menos 5% dos votos em todo o país teria um cargo Executivo no governo. O líder zulu, Mangosuthu Buthelezi, disse que ainda não sabe se vai participar do governo ou continuar na oposição.
"Se eu consegui trabalhar com o CNA, que oprime o meu povo, será menos difícil" trabalhar com Mandela, comentou Buthelezi, sinalizando que pode aceitar uma pasta na nova administração.
O CNA terá o presidente e o primeiro vice-presidente. O PN terá o segundo vice-presidente, que será o atual presidente De Klerk.
Ele e Mandela se reuniram por cinco horas ontem. "Eles discutiram uma agenda completa de itens relativos à fase de transição e de itens que precisam ser discutidos. Eles se encontrarão mais tarde nesta semana", disse Richard Carter, porta-voz da Presidência.
Cerca de 1.500 pessoas de 19 corais encerrarão o concerto "Muitas Culturas, uma Nação", na posse de Mandela, cantando os dois hinos da África do Sul. O antigo, em africâner (língua derivada do holandês), e o novo, em bantu.

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