São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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Quércia está liquidado?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Foi um duríssimo golpe ontem contra o governador Orestes Quércia, capaz até de mexer no jogo da sucessão presidencial. Ele foi denunciado por estelionato, devido à importação pelo Governo de São Paulo de equipamentos supostamente por preços superfaturados, revelada em 1991 pelo repórter Frederico Vasconcelos, da Folha.
Não se trata, aqui, de um ataque de um adversário político do ex-governador –mas de um subprocurador-geral da República, autor da denúncia. É um momento delicado para Quércia que, agora, tenta ganhar as prévias dentro do seu partido, enfrentando o senador José Sarney, bem melhor colocado nas pesquisas de opinião pública.
As pesquisas de opinião estão colocando a honestidade como prioridade dos eleitores –o que torna óbvia a explosividade de uma denúncia de estelionato a ser, a partir de agora, apreciada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Até o julgamento final, a suspeita irá rondar Quércia, explorada, claro, por seus inimigos.
Não sem motivo, José Sarney revelava, reservadamente, que tem poucas chances de vencer as prévias, levando em conta o domínio de Quércia no PMDB. Mas vislumbrava que uma eventual reviravolta no caso das importações de equipamentos trouxesse problemas ao ex-governador de São Paulo. Esse fato novo está acontecendo.
Não está nada fácil a vida de Quércia. Está muito mal nas pesquisas, não consegue o apoio de lideranças importantes de seu partido, está distante das lideranças empresariais e sindicais –e, para completar, terá de provar na Justiça que não cometeu estelionato.
Se Quércia não se livrar do processo na Justiça e criar urgentemente um fato novo, ele está liquidado.
PS – O PSDB escolheu para vice de Fernando Henrique Cardoso o senador Guilherme Palmeira. Inexpressivo nacionalmente e mesmo em seu Estado, Alagoas, está longe de ser a principal liderança. A escolha, no caso, foi a dedo: os tucanos quiseram mesmo colocar um nome inexpressivo para que a opinião pública não se lembre tanto da aliança com o PFL. O problema é se o vice, por algum motivo, tiver de virar presidente em definitivo, o que tem sido a regra nos últimos anos.

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