São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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O parto da montanha

De uma aliança questionável surge um estranho fruto. O acordo eleitoral entre PSDB e PFL, entre um partido que se intitula social-democrata e outro caracteristicamente conservador, entre pessoas que se opuseram ao regime militar e outras que dele participaram, já vinha causando constrangimentos a seus protagonistas.
A candidatura do ex-ministro Fernando Henrique Cardoso sofreu um apreciável desgaste durante o período de indefinição do nome que iria concorrer à Vice-Presidência em sua chapa. O desenlace das longas negociações com o PFL veio só agravar, se não o prejuízo, ao menos a estranheza desse acordo.
O escolhido para vice de FHC foi o pouco expressivo senador Guilherme Palmeira, de Alagoas. Membro da Arena e do PDS, antes de entrar para o PFL, Palmeira foi próximo ao ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Até ontem, o senador alagoano sequer tinha aparecido entre os nomes cogitados. A solução parece ser, portanto, o resultado dos diversos vetos que os possíveis candidatos sofreram no processo ou mesmo da dificuldade de encontrar um nome cuja indicação não rachasse uma das duas legendas.
Nesse processo, os principais cogitados foram preteridos: o filho do ex-governador Antônio Carlos Magalhães, Luís Eduardo, o ex-ministro Gustavo Krause, o senador Marco Maciel e o deputado Roberto Magalhães. O senador Palmeira passou. Mas, se aparentemente resolve as disputas no PFL, nada traz para a candidatura de FHC. Não ameniza as incoerências entre os dois partidos e tampouco acrescenta votos, se é que não os tira.
Os meandros da complicada engenharia que culminou nessa indicação são muitos. Mas é certo que o resultado ficou muito aquém das expectativas. Se na história política dos quatro principais nomes cogitados já existiam incoerências em relação às posições do PSDB, a escolha de um nome pouco expressivo veio só diminuir o sentido dessa cada vez mais estranha aliança.

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