São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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A renda mínima; Massacre de Hebron; Pela revisão exclusiva; O defeito que matou Senna; Novo bicho; O elogio a Hitler

A renda mínima
"A citação correta é `De cada um de acordo com a sua capacidade; a cada um de acordo com a sua necessidade' (e não `Tirar de um cada um'...), lema que Karl Marx, em sua `Crítica ao Programa de Ghota' (1875), disse que poderia estar inscrito na bandeira de uma sociedade no futuro onde os homens se comportariam de forma mais madura e civilizada. Foi a esta citação que fiz referência na defesa do projeto de Garantia de Renda Mínima –durante o 9º Encontro Nacional do PT– mencionando que no caso presente o grau de necessidade mínima seria definido democraticamente pelo Congresso Nacional. Mencionei que a proposta era também consistente com o plano proposto por Bertrand Russell, em `Caminhos para a Liberdade' (1919): `que certa renda, suficiente para as necessidades, será garantida a todos, quer trabalhem ou não, e que uma renda maior –tanto maior quanto o permita a quantidade total de bens produzidos– deverá ser proporcionada aos que estiverem dispostos a dedicar-se a algum trabalho que a comunidade reconheça como valioso'. Melhor defendido ainda, conforme chamara a minha atenção d. Luciano Mendes de Almeida, na Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios, que assim conclui: `o que teve uma safra abundante, não teve demais; e o que colheu pouco, não teve de menos'. A proposição tem o respaldo técnico de enorme gama de economistas, muitos dos quais laureados com o Prêmio Nobel. Felizmente, o projeto foi amplamente aprovado e agora integra oficialmente o programa de governo do PT."
Eduardo Matarazzo Suplicy, senador pelo PT-SP (Brasília, DF)

Massacre de Hebron
"Fiquei surpreso com a nota na Folha de 11/04 citando algumas palavras do terrorista Baruch Goldstein como se ele fosse um herói, líder ou profeta do Velho Testamento. A nota dizia literalmente: `Se por vontade de Deus eu vier a morrer, que minha morte sirva de compensação por todos os pecados que cometi e que me seja dado um lugar no céu'. Permitam-me fazer alguns comentários, começando e terminando com interrogações: 1) Quando Goldstein escreveu estas palavras? 2) Com quem ele as deixou? 3) Isto não pode ser entendido como uma nova evidência de que ele planejou o crime antes de cometê-lo? Finalmente, quero perguntar como Goldstein e o jornalista que publicou este comentário entendem esta `vontade de Deus'."
Salah Eldin M. Bayumy, conselheiro de imprensa da embaixada do Egito (Brasília, DF)

Nota da Redação – A Folha utilizou no caso o noticiário das agências internacionais, que atribuía a Goldstein a declaração publicada.

Pela revisão exclusiva
"Apoio integral à campanha pela assembléia revisora exclusiva."
Roberto Romano, professor titular de filosofia política da Universidade Estadual de Campinas –Unicamp (São Paulo, SP)

O defeito que matou Senna
"Admirável o artigo de Janio de Freitas de ontem na Folha. Ele colocou no papel exatamente o que senti com a morte de Senna. Morreu procurando, como tantas outras pessoas, a fama. Toda a sociedade tem um pouco de culpa, pois reconhece apenas aquelas pessoas que chegam ao sucesso, mesmo que para atingi-lo arrisquem o que têm de mais valioso: a vida."
Laudicéia Machea (São Paulo, SP)

"`O defeito que matou Senna', de Janio de Freitas, é o texto mais lúcido e piedoso que já li sobre a irresponsabilidade."
Neusa Maria Cândido (São Paulo, SP)

"Parabéns a Janio de Freitas pela coragem de abordar o assunto sem a pieguice que galvaniza quase todos os analistas em momentos como este."
Fernando Conceição, coordenador-executivo do Núcleo de Consciência Negra na USP (São Paulo, SP)

"Lamentável e inoportuno o artigo de Janio de Freitas. A insensatez do articulista serviu para nos mostrar a sua outra face –a de um medíocre aprendiz de psicanalista. Ayrton Senna nunca perseguiu a idolatria a que se refere o jornalista. Senna não morreu por sua obstinação em vencer a qualquer preço. Ele foi vítima, sim, da omissão e da negligência dos organizadores da corrida de Imola."
João Sérgio Leal Pereira, procurador da República (Rio de Janeiro, RJ)

"Vivo, Ayrton Senna deu aos brasileiros muitas e intensas alegrias. Morto, nas circunstâncias inaceitáveis de Imola, nos dá a chance de participarmos, em seu nome, da luta que ele abraçaria: pela maior segurança na Fórmula 1, valorizando a vida acima de tudo. Cartas à Federação Internacional de Automobilismo –FIA, Max Mosley, 8 Place de la Concorde, 75008, Paris, França."
Sérgio Amaral Silva (São Paulo, SP)
"Sua morte diz ao mundo o que suas palavras não conseguiram mostrar."
Roberto Gomes Caldas Neto, presidente da Associação Brasileira de Defesa do Contribuinte (São Paulo, SP)

Histeria coletiva
"Insuportável e patética a histeria coletiva pela morte de Senna, vítima do culto insensato à máquina. Automobilismo não é esporte, Senna não é mártir. Parafraseando Brecht: triste do país que precisa inventar heróis."
Alfredo Schechtman (Brasília, DF)

Novo bicho
"Sugerimos ao PSDB que mude o símbolo do partido: sai o tucano, entra o camaleão."
Silvia de Castro Arruda (São Paulo, SP)

O elogio a Hitler
"Junia Nogueira de Sá salvou a dignidade do jornal com a sua crítica precisa e completa (`O que revela um fundo de baú', 01/05) da reportagem `Lula declarou admirar Hitler e Khomeini', publicada em 21/04. Causa espanto, porém, que um jornalista do porte de Gilberto Dimenstein tenha aceito e difundido tão grosseira manipulação política, em sua coluna diária."
Fábio Konder Comparato, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo –USP (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Gilberto Dimenstein – Incrível que um intelectual do porte e da seriedade de Fábio Comparato considere manipulação política comentar um elogio feito por Luiz Inácio Lula da Silva a uma série de ditadores –entre eles, Adolf Hitler e Fidel Castro. Lamento que o sr. não tenha lido atentamente a coluna, onde são feitas ressalvas, contextualizando a entrevista de Lula. Será que o eleitor não tem direito de saber que, aos 34 anos, o atual candidato via como positiva a "determinação" de Hitler?

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