São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Aliado do PT não acha democracia fundamental

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

O debate sobre a aliança entre PSDB e PFL estendeu a polêmica sobre outras coligações e acabou por atingir o principal crítico do acordo, o PT, de Lula.
O partido, que acusava os tucanos de aderirem ao fisiologismo pefelista, agora está sob bombardeio por disputar a Presidência aliado ao Partido Comunista do Brasil, o PC do B.
Agremiações tem um histórico de aprovação de ditadores e não defende incondicionalmente a democracia.
O Partido Comunista do Brasil tem 1,2% dos deputados federais e dúvidas se, em certos momentos de uma futura "transição para o socialismo", as liberdades civis poderiam ser preservadas.
Companheiros de luta
Para o secretário-geral do PT e responsável pela coordenação das coligações, Gilberto Carvalho, "há uma diferença qualitativa entre as alianças do PSDB e PT".
Carvalho considera, em primeiro lugar , que o PC do B está aprendendo com as coligações e se tornando mais democrático.
Em segundo lugar, Carvalho diz que uma aliança com o PFL significa a adesão aos que querem manrter a "injustiça social".
O PT e seus aliados - PC do B, PSB, PPS - teriam uma "trajetória comum de lutas sociais e por um governo popular".
Garantir a governabilidade e dividir as tarefas democráticas entre os partidos são os motivos da necessidade de alianças do PT.
Estas podem se estender ao PV, setores do PSDB e os éticos do PMDB – como o pré-candidato à presidência Roberto Requião. O PC do B concorda.
Quanto às posições do PC do B em relação a regimes comunistas, Carvalho afirma que "só é possível aliança com o diferente e o PT critica algumas diferenças . Importante é que um possível governo do PT não vai abrir mão da democracia como forma ou conteúdo".
Tanto petistas como comunistas preferem não comentar diferenças programáticas. Segundo eles, a plataforma da frente que vai apoiar Lula será decidida no próximo dia 13, no Rio, e é remota a possibilidade de rompimento.
PC "light"
O Partido Comunista do Brasil foi fundado em 1922. Em 1961 foi rebatizado como Partido Comunista Brasileiro. A discussão sobre Stalin e os rumos da revolução brasileira motivou a saída dos dirigentes e membros acusados de "autoritarismo e estalinismo".
Josef Stalin dirigiu a URSS entre 1924 e 1953 como ditador personalista. Criou um Estado policial e ordenou uma política de coletivização que matou milhões.
Hoje, o PC do B condena alguns "erros históricos de Stalin na condução do socialismo".
Em 1962, João Amazonas – hoje presidente do partido –, Maurício Grabois e Pedro Pomar fundaram o PC do B.
Grabois foi morto na guerrilha do Araguaia, no sul do Pará, iniciada pelo PC do B em 1966 e dizimada pelo Exército em 1973.
Em 1976, Pomar e outros militantes foram mortos pela polícia durante uma reunião do comitê central do partido em São Paulo.
Hoje, os comunistas procuram uma umagem mais "light". Dizem que a transição para o socialismo será mais lenta. Negam que tivessem a Albânia ou outro país como modelo socialista.
"Nós apenas tínhamos pontos de vista comuns sobre o movimento comunista internacional com o Partido do Trabalho da Albânia", diz o vice-presidente do PC do B, Renato Rabelo.
Hoje, há proximidade com o Partido Comunista Marxista da Índia, que governa quatro estados do país,inclusive Bengala Ocidental, onde fica Calcutá.
O partido já apoiou também o regime comunista chinês, com o qual rompeu em 1976.
No entanto, à menção de um suposto apoio ao massacre da praça da Paz Celestial, em 1989, os comunistas do Brasil reagem com a edição do seu jornal da época.
"A Classe Operária" condenou em reportagem de capa a violência da "camarilha reacionária chinesa". No episódio, o governo reprimiu com violência movimentos estudantis de protesto.
O partido atua no movimento sindical através da "Corrente Sindical Classista", filiada à CUT. Controlam ou são influentes em sindicatos importantes em São Paulo, como o dos metroviários, o da Sabesp e bancários.
Os sindicatos dos metalúrgicos de Betim (MG), de Ribeirão Preto (SP) e da Bahia também são da tendência.
Atividades
A atuação parlamentar dos comunistas não se diferencia radicalmente de seus colegas de outros partidos.
Jamil Murad, médico formado pela USP, deputado estadual em São Paulo e candidato à reeleição, aprova projetos como o que garantiu a meia-entrada para os estudantes em todo tipo de espetáculo.
Murad também apóia invasões de terra no oeste do Estado. Diz que em Promissão, as famílias assentadas (700) hoje respondem por 25% do ICMS do município.
Aldo Rebelo, um dos seis deputados federais do partido, único candidato à reeleição por São Paulo, conseguiu regularmentar a profissão de enfermeiro e pede a moratória da dívida externa.
Democracia
O partido fica menos "ligth"quando se trata de democracia. O programa do PC do B diz que juízes e representantes serão livremente eleitos no socialismo.
Mas, segundo Aldo Rebelo, esses princípios podem ser temporariamente suspensos.
"Os países comunistas tinham inimigos poderosos. A necessidade de sobrevivência pode levar a situações em que a convivência com formas democráticas de governo enfrentam problemas", explica Rebelo.
Quando vereador em São Paulo, o hoje senador petista Eduardo Suplicy propôs eleições diretas em Cuba. Rebelo foi contra.
Ainda assim, o deputado diz que socialismo sem democracia é farsa e que ditadura do proletariado não significa que "queremos um Pinochet do proletariado".
"O conceito de ditadura do proletariado é sociológico e se refere a uma forma de Estado e não de governo. Quando houver apenas uma classe, é óbvio que ela vai dominar o Estado", diz.
Rebelo consideram que também não há liberdade de imprensa nem democracia no Brasil.
"Nós temos é conquistas democráticas. Mas um parlamento em que quase metade é de empresários não é representativo".

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