São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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PFL já considera Sarney como alternativa a FHC

JOSIAS DE SOUZA; GILBERTO DIMENSTEIN

Partido ameaça desfazer aliança se candidato tucano não `decolar'
JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
GILBERTO DIMENSTEIN
Diretor da Sucursal de Brasília
Inconformado com o tratamento que recebe da direção do PSDB e com a queda de Fernando Henrique Cardoso nas pesquisas de opinião, o PFL já monta em sigilo uma estratégia alternativa.
A tática do PFL passa pela candidatura do ex-presidente José Sarney. O que se deseja é deixar claro ao PSDB que o partido possui alternativas e não aceitará o menosprezo.
Os pefelistas darão um prazo a FHC. Se o candidato não "decolar", como afirmam, tentarão viabilizar a candidatura de José Sarney.
O plano da cúpula do PFL considera três hipóteses. A primeira passa pela recuperação de Fernando Henrique. Neste caso, o partido se manteria fiel à aliança com o PSDB.
A segunda alternativa, considerada menos provável, leva em conta as chances de uma reviravolta interna no PMDB. Neste cenário, Orestes Quércia seria batido nas prévias, em função das pesquisas eleitorais.
Praticamente empatado com FHC –tem 14% das preferências, contra 15% do ex-ministro–, Sarney seria indicado candidato do PMDB no próximo fim-de-semana.
O PFL, então, racharia ao meio. Metade iria com Sarney e outra metade com FHC. O partido ficaria com um pé em cada canoa, jogando suas fichas nas duas candidaturas que hoje reúnem mais chances de bater Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
O terceiro cenário prevê que o PMDB escolherá Quércia e não Sarney como candidato. Leva-se em conta a perspectiva de desgaste de Quércia, denunciado por suposto crime de "estelionato" pelo Ministério Público.
Os pefelistas apostam na aceitação da denúncia contra Quércia pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Até lá, a direção do PFL e o próprio Sarney tentariam não se indispor com Quércia.
Após a Copa do Mundo, se confirmada a inviabilidade eleitoral de FHC, o PFL tentaria articular a renúncia de Quércia em favor de Sarney. E abandonaria em definitivo o candidato tucano.
Há hoje no PFL um ambiente de rebeldia. O partido se considera em segundo plano. Sentindo a fragilidade da aliança, Fernando Henrique se esforça para mudar a situação.
FHC mantém contatos frequentes com Antônio Carlos Magalhães, o principal cacique do PFL. Na opinião de ACM, Fernando Henrique, até aqui, "jogou mal".
"Ele precisa esquecer os tucanos e os pefelistas descontentes e começar a fazer campanha", diz o governador aos seus aliados. "Fernando Henrique deve começar a falar de coisas como fome e desemprego".
A cúpula do PSDB aposta numa recuperação de Fernando Henrique. O candidato começará a viajar pelo país, já nesta semana. Imagina-se que melhore sua popularidade, principalmente junto ao eleitorado mais pobre.
A estratégia do PSDB também passa por Sarney. Espera-se que, derrotado por Quércia no PMDB, o ex-presidente passe a trabalhar por FHC.
O apoio de Sarney é considerado valioso. As pesquisas demonstram que ele retira votos de Lula nas faixas mais pobres do eleitorado, área em que FHC tem desempenho medíocre.

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