São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Vamos que vamos' pode ser o nosso mote este ano

MARCO AURELIO KLEIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

`Vamos que Vamos' pode ser o nosso mote este ano
Viu o Senna ontem? A esta pergunta sempre respondemos com aquele óbvio sim, dos fanáticos torcedores.
A resposta era sempre completada com os comentários apaixonados sobre mais uma pole. Mais um recorde. Mais uma vitória.
Com os emocionantes detalhes dos incríveis duelos com os eternos inimigos: O Leão Nigel Mansell ou Alain Prost, o Professor. Para nós, apenas o Inglês e Francês, simples coadjuvantes das façanhas do nosso Campeão.
Nosso também para italianos, franceses –que como vocês bem o sabem, o aplaudiram de pé, em plena Paris, no jogo da seleção. Até mesmo os japoneses, contidos e metódicos, explodiam em "brasileira" alegria com as arrojadas peripécias do tricampeão.
Os fanáticos ferraristas não puderam tê-lo no comando da mítica "macchina rossa", mas acalentaram o sonho de poder gritar "Nostro Senna".
Nosso Senna. Aqui mais do que um sentimento ou um sonho. Uma verdade!
O Brasil o adotou em cada uma de suas famílias. Era como o irmão que trabalha longe. Que saiu de casa em busca de sucesso e consagração. E conseguiu!
Com orgulho, cada brasileiro fez dele seu parente querido.
Para nós do Nacional ele era tudo isso e ainda mais. Muito mais! Mais próximo! Mais intimo! Não por acaso era o "nosso" piloto. Como se o próprio carro também fosse nosso.
Natural, afinal, não estávamos com ele em cada corrida? Não aceleramos juntos? Não sabíamos o ponto certo de cada ultrapassagem?
Ah!! Quantas vezes nos deu ganas de gritar para aquele retardatário mais renitente: "Sai daí pô!! Não vê que o Inglês já tá no visual?" "É preciso abrir do Francês!!"
Por favor, me digam quem dentre vocês não pensou, muitas vezes, em dar uns bons safanões no tal do Ballestre.
Não é assim que fazem as famílias? Não ficam do lado dos irmãos? Pouco importa a razão. Muito importa o coração!!
E Ayrton era nosso irmão!
O irmão que agora se foi para sempre. E famílias choram quando partem os irmãos.
É a hora da dor e da paixão. Da saudade.
Mas, nosso Ayrton foi acima de tudo um vencedor. Um forte! Até mesmo na sua última volta estava em primeiro.
Desafiou o destino. Aqui ou em qualquer lugar, um campeão sabe que o mais alto degrau do pódio é seu.
Me lembro, neste instante, da genial expressão que ele usava quando queria dar ênfase à sua vontade e determinação. À sua capacidade de superar qualquer obstáculo: "Vamos que Vamos!!"
Certa vez, disse ao Ayrton que gostava muito do mote e que o usaria bastante, dando a ele o crédito, com o apodo Grande Filósofo Popular. Rimos muito.
Neste momento, quando temos o desafio de superar a dor da perda do nosso irmão, lembro a frase e proponho que seja nosso mote para o ano de 94. Ano cheio de desafios e novas oportunidades. Ano digno daqueles que têm fome de vitórias. Como todos nós brasileiros. Como Ayrton.
"Vamos que Vamos!!!"
Ayrton Senna da Silva
Tricampeão Mundial de F-1
o nosso Ayrton.

Marco Aurélio Klein é diretor de marketing do Banco Nacional S/A.

Texto Anterior: Agora, as crianças sabem que Super-Homem morre
Próximo Texto: 'Basquete me lembra dança', diz Madonna
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.