São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Cientista foi guilhotinado

RICARDO FERREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

No mesmo ano em que entrou para a Academia Real de Ciências, Lavoisier entrou para outra organização: a "Ferme Générale", ato que lhe seria funesto.
A coleta de impostos na França do Antigo Regime estava, como diríamos hoje, terceirizada através de uma companhia particular, a "Ferme Générale".
Os nobres e o clero (3% da população) eram isentos de impostos. O Terceiro Estado (comerciantes, artesãos e camponeses sem terra) pagava aos agentes da "Ferme", que tiravam lucro considerável e repassavam a diferença ao governo. Não é de admirar que os "fermiers" fossem odiados pelo povo.
Lavoisier, cujo pai tinha comprado, em 1772, um título na Pequena Nobreza, entrou para a "Ferme" aos 25 anos, primeiro como secretário e, depois de 1780, na qualidade de "fermier". Em 1771 ele se casou com Marie Anne Pierrette Paulze (1758-1836), filha de outro rico "fermier".
Quando começou a Revolução Francesa (1789), Lavoisier tinha chegado ao ponto mais alto da carreira. Como quase todos os intelectuais da época, apoiou a Revolução no início.
A partir janeiro de 93, com a decapitação do rei Luís 16, a situação de Lavoisier se complica, por ser diretor da Academia de Ciências. Em agosto de 1793 a Academia é suprimida, sob o argumento de que "as academias não podiam subsistir em um regime livre".
Não foi, contudo, por ter defendido a Academia que Lavoisier morreu na guilhotina, mas por ser "fermier".
Foi preso com outros "fermiers" em 24 de novembro de 1793. Alguns cientistas, como René-Jus Hay (1743-1822) e Lagrange, tiveram a coragem de defendê-lo. Outros, como Laplace, Fourcroy e Berthollet, ficaram calados. Esta é uma situação infelizmente comum nos Estados que usam o terror como arma política.
Foi condenado e, no dia seguinte, domingo 8 de maio de 1794, executado. Lavoisier demonstrou coragem até o fim, como se vê na carta de 7 de maio ao seu primo, Auger de Villiers.
A frase atribuída a Coffinhal, presidente do Tribunal Revolucionário, "A República não necessita de sábios", parece não ter sido pronunciada. Seu epitáfio ficou mesmo sendo a frase de Lagrange (veja na outra página).

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