São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Pai da química criou culto a sua personalidade
ANDRÉ LAHOZ
O culto a seu nome é enorme, em boa parte motivado pelo seu próprio personalismo ("Eu fiz uma revolução"). O nome Lavoisier sempre foi envolvido por polêmica e misticismo. Os químicos que passavam a aceitar a sua teoria se diziam convertidos, um termo religioso. Para Bensaude-Vincent, ele tem um grande papel como a personificação de uma ciência. Sobre sua morte, concorda que o principal motivo foi ele ter sido "fermier général", responsável pelos impostos (veja matéria ao lado). Mas haveria outras razões. Por exemplo, o muro que Lavoisier mandou construir em volta de Paris para impedir a entrada de produtos na cidade sem pagar impostos. Um ditado popular da época dizia: "le mur murant Paris rend Paris murmurant" (o muro que cerca Paris deixa Paris a murmurar). Além disso, Jean-Paul Marat (grande personagem da Revolução) havia tentado entrar para a Academia de Ciências e foi recusado. Passou então a atacar os membros da Academia, particularmente Lavoisier. O químico foi ficando cada vez mais isolado. Não tinha apoio da esquerda, que o julgava muito rico. Não tinha apoio da nobreza, por não ser nobre. Os outros sábios não puderam ou não quiseram ajudá-lo. Foi julgado de manhã e morto à tarde. Com o bicentenário da morte de Lavoisier, Bensaude-Vincent diz que se comemora também o nascimento de uma ciência. Por último, a comemoração lembra que sempre existe o risco de a política interferir no saber e na ciência. Lavoisier representa isso como ninguém: foi herói de uma revolução científica e vítima de uma revolução política. (AL) Texto Anterior: Cientista foi guilhotinado Próximo Texto: Como se faz um trovão? Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |