São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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Banqueiros ficam insatisfeitos com Lula

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Banqueiros presentes ontem em um encontro com Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, saíram sem entender o que o candidato petista quis dizer.
Lula falou sobre como pretende solucionar os problemas sociais do país. Mas foi vago ao dizer onde buscaria dinheiro para isso.
Essa é a opinião coletada pela Folha junto a oito participantes do evento. Falaram pelo telefone, na condição de não terem os nomes revelados.
Lula falou para cerca de 80 investidores e banqueiros na sede da corretora Bear Stearns, em Nova York (leia sobre o discurso nesta página).
Não participaram peso-pesados. A maioria foi gente de segundo escalão. Trata-se de público importante. Forma a opinião financeira nova-yorquina.
A expressão mais usada para definir o que sentiram ao sair do encontro foi "mixed feelings" –em português, uma mistura de sentimentos. Todos consideraram Lula assertivo ao defender suas idéias.
O problema era na hora de explicá-las. O petista discorreu longamente sobre a necessidade de educar os 60 milhões de brasileiros analfabetos.
Nenhum banqueiro discordou disso. É público consumidor que está alijado do mercado. Consideram importante promover na escala social essa massa de desvalidos.
Só que o político brasileiro não citou programas do governo que vai cortar para ter o dinheiro necessário no caso da alfabetização.
Embora Lula tenha repetido seu plano de taxar mais os ricos e menos os pobres, os banqueiros ouvidos pela Folha não conseguiram enxergar nisso alguma proposta consistente de maior arrecadação de dinheiro.
Os banqueiros presentes ficaram insatisfeitos com a opinião do petista sobre telefonia. Disse que essa área, assim como a de petróleo, deve ficar nas mãos do Estado.
No caso dos telefones, Lula argumentou que o setor esteve com a iniciativa privada no passado e não era melhor. O raciocínio foi considerado fraco.
Banqueiros citaram que o Brasil tem a 10ª economia ocidental mas está em 43º em número de telefones por habitante.
Outra reclamação foi sobre a exposição superficial de Lula para a dívida. Acostumados a números, os banqueiros queriam saber por que o petista considera alto o valor gasto pelo país com o acordo.
O governo gastará cerca de US$ 3,8 bilhões, ao longo de dois anos, para pagar as garantias do acordo externo. Lula reclama disso. O valor equivale a menos de 1% de tudo que o país produz em apenas um ano.
Ao reclamar do valor, na opinião dos banqueiros, o petista deu a entender que não está bem assessorado sobre o assunto. Por isso, poucos acreditaram quando Lula disse, várias vezes, que vai honrar os contratos da dívida.

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