São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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FHC decide adotar discurso de esquerda

FERNANDO DE BARROS E SILVA; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupado com o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pretende adotar em sua campanha à Presidência um discurso mais à esquerda, com ênfase para as questões sociais.
A guinada na estratégia política de FHC foi discutida no sábado, em reunião com intelectuais adeptos de sua candidatura, no escritório do ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, em São Paulo. O encontro, fechado à imprensa, começou às 10h30 e terminou às 14h.
Empresários
FHC disse na reunião que os empresários que o apóiam já estão cientes de que chegou a hora de identificar seu nome com o combate ao desemprego, à miséria e à violência, temas que vêm sendo martelados na mídia por Lula.
Na prática, isso significa que sua campanha não estará atrelada apenas ao sucesso do plano de estabilização econômica, prioritário para as lideranças empresariais.
Com o discurso social-democrata, os peesedebistas pretendem atrair os votos do que chamam de "franja social do petismo", que seria sensível a uma candidatura menos radical que a de Lula, mas que rechaça a aliança com o PFL.
FHC abriu a reunião de sábado em tom de autocrítica. Atribuiu sua queda nas pesquisas ao fato de ter "sumido" da mídia enquanto articulava a aliança com o PFL.
Disse que as negociações foram trabalhosas e comentou que, no último mês, esteve abalado por problemas familiares, citando a morte de seu irmão Antônio Geraldo, ocorrida no dia 15 de abril.
Ao ser perguntado sobre as implicações negativas da aliança com o PFL, FHC desconversou. Disse que era um fato consumado, bom para ambas as partes, e que, daqui por diante, a campanha deveria tomar um rumo mais doutrinário, nos marcos da social-democracia.
Segundo os intelectuais, não deve haver resistência do PFL à nova diretriz da campanha de FHC. Todos acham que o partido de Marco Maciel e Antônio Carlos Magalhães é muito pragmático e saberá entender que isso é necessário para que tenham chance de vitória.
Otimismo
Participaram do encontro o filósofo José Arthur Giannotti, o historiador Boris Fausto, o sociólogoFábio Wanderley Reis, o advogado Miguel Reale Jr. e os cientistas políticos Sérgio Abranches, Aspásia Camargo e Maria Ermínia Tavares de Almeida, entre outros.
Abranches, especialista em sociologia eleitoral, fez uma exposição sobre as últimas pesquisas que apontam a queda de FHC. Em tom otimista, disse que sua candidatura começa a penetrar também nas classes mais baixas e que, em junho de 1989, Lula tinha apenas 7% das intenções de voto segundo o Datafolha. FHC tem hoje 16%.

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