São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994 |
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Real pode pressionar preços dos alimentos
MÁRCIA DE CHIARA
A entrada em circulação do real pode tornar o abastecimento de alimentos básicos mais apertado e pressionar os preços. "Se a inflação ficar entre 4% e 5% com o real, o consumo de alimentos pode crescer cerca de 10% nos primeiros meses", prevê Homem de Melo, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Segundo ele, o trabalhador vai ter um ganho substancial de poder aquisitivo dentro do mês. Hoje, o salário é corrigido só até a data do pagamento. A partir daí, se desvaloriza para quem não tem a alternativa de investir o dinheiro. Essa desvalorização se reduz drasticamente, se a inflação for baixa, explica. Os consumidores de baixa renda, segundo o economista, devem aumentar as compras de carnes, frutas, leite e derivados. Para Heron do Carmo, coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, "as famílias de baixa renda, que não têm acesso às aplicações do mercado financeiro, vão direcionar esse ganho para o consumo de alimentos, principalmente carnes e proteínas". Mas ele acha difícil prever o impacto desse crescimento no consumo, nos preços e na inflação. Os alimentos pesam 30% no IPC da Fipe; a carne e os produtos protéicos respondem por 10%."Isso é muito", diz Heron. Em sua análise, o impacto depende da agilidade na importação dos alimentos e das suas cotações no mercado internacional. "Disponibilidade de produto existe, mas os preços no mercado internacional estão altos", diz o analista André Pessoa, da Mendonça de Barros Assessores. Ele descarta o desabastecimento. Entre arroz, milho, trigo e algodão, o mercado prevê importar entre 7 milhões e 8 milhões de toneladas. Pessoa lembra que as condições atuais para importar diferem de outros planos econômicos. As reservas cambiais são altas e as alíquotas de importação são menores para os produtos agrícolas. Homem de Melo acredita que as importações podem ficar ainda mais favoráveis se o governo congelar a taxa de câmbio. Na sua avaliação, a situação de abastecimento é delicada. Mas a entressafra desta vez não será tão perigosa comparada com outros planos econômicos. Já Marcel Solineo, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, acha que o governo está "atirando no alvo errado" ao pensar na hipótese de conter o crédito para desistimular o consumo. Isto porque os alimentos são comercializados à vista. Texto Anterior: MP vai a votação sem acordo com ruralistas Próximo Texto: Cálculo da poupança muda em junho Índice |
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