São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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Quando, não como

O anúncio de 1º de julho como data para entrada em vigor da nova moeda, feito ontem pelo governo, se, de um lado, confirma a promessa de evitar surpresas, de outro, transforma a falta de novidades numa rotina algo angustiante. Se a paciência é uma virtude, a demora na definição de regras importantes acaba tornando o próprio jogo cada vez mais nervoso, principalmente nas atuais circunstâncias políticas.
Havia o compromisso de anunciar com 35 dias de antecedência o real. Os cerca de 50 dias com que afinal se proclama o Dia D sugerem uma angústia provocada pela percepção de queda na posição do candidato Fernando Henrique Cardoso nas pesquisas. O próprio senador chegou a cobrar, há pouco mais de uma semana, que ao menos se gerasse esse fato político do anúncio o mais rápido possível. Lideranças do PSDB vinham também pressionando até pela inclusão da data do 1º de julho, por precaução, no corpo da MP que cria a URV.
O resultado, portanto, é uma falta de surpresas que, tendendo à falta de iniciativas, traz o risco de fazer confundir cautela com passividade. E a inflação em cruzeiros reais continua corroendo o salário de cada trabalhador, uma vez recebido em URVs. A perda para o salário é menor do que antes. Mas a erosão ao longo do mês continua atuando, também como fator político.
Declarada a data, entretanto, ainda há muito a fazer antes que a terceira etapa do plano se consume. A rigor, há tarefas da primeira etapa ainda inconclusas, como a aprovação de um Orçamento equilibrado, e mesmo da segunda, como a aprovação da MP que lhe deu início, criando o novo indexador.
Mas a incógnita que mais incomoda, agora, é a ignorância sobre as regras da etapa que já se sabe quando começa. Sabe-se o quando, mas não como. Essa ignorância das regras sobre câmbio e política monetária não impede que o governo possa baixar, e rápido, a inflação. Ocorre que, em vista das incertezas políticas que se avolumam, sem as regras do jogo econômico, fica também cada vez mais difícil responder "por quanto tempo?".

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