São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994 |
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PT tenta conter CUT para evitar prejuízos
JOSIAS DE SOUZA
A cúpula do PT concluiu que uma eventual radicalização política, provocada por uma sucessão de greves, arranca votos do seu candidato, hoje favorito em todas as pesquisas. Já na quarta-feira, dia em que o Exército saiu às ruas para combater grevistas da Polícia Federal, a ação dos petistas evitou o que poderia ter sido um desastre. Postados diante do Ministério da Fazenda, trabalhadores sem-terra ameaçavam invadir o prédio. Estavam irritados por não terem sido recebidos pelo ministro da Fazenda Rubens Ricupero. Espiões O governo tinha dois espiões, em trajes civis, infiltrados entre os sem-terra. Alertado sobre o risco de invasão, o Ministério do Exército se preparou para agir. O confronto entre soldados e trabalhadores rurais, evitado pela intermediação de deputados petistas, poderia ter consequências imprevisíveis. Só por volta das 23h da quarta-feira conseguiu-se dissuadir os sem-terra, oferecendo-lhes um encontro, ocorrido ontem, de uma comissão de trabalhadores com representantes do governo. Em declarações públicas, os petistas sustentam que as greves e manifestações nada têm a ver com estratégia eleitoral. Devem-se, segundo afirmam, à corrosão dos salários. Pressão sobre a CUT Reservadamente, porém, pressionam a CUT para que dê uma trégua nesta fase eleitoral. O presidente nacional da entidade, Jair Meneguelli, começou a receber os primeiros telefonemas quarta-feira. O deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), guru econômico de Lula, voou de Brasília para os EUA, também na quarta-feira à noite, para encontrar-se com o candidato. Ontem, Aloizio informou a Lula que, segundo a impressão que recolheu em Brasília, a ação da CUT, explorada pelo governo, prejudica a imagem do candidato do PT à Presidência. Lula tinha, desde a véspera, a mesma impressão. Em contatos telefônicos com a liderança do PT na Câmara, soube da ação do Exército. Viu no episódio uma ameaça à própria candidatura. Anteontem chegou a dizer, num primeiro momento, que "os grevistas da PF estão certos. Não é possível que eles ganhem menos que o pessoal da Polícia Civil". Depois, considerou que os tanques nas ruas de Brasília eram uma "demonstração de força desnecessária." Contra a radicalização Ao desembarcar hoje no Rio, Lula encontrará um tenso José Genoino (PT-SP). "Sou contra a radicalização", dizia o deputado ontem. "Me oponho à demonstração de força do Exército, precipitada e desnecessária", afirmava ainda Genoino. "Mas também não sou favorável ao sindicalismo armado, à ocupação de prédios e a atitudes radicais". Paulo Delgado (MG), outro moderado do PT, chega mesmo a dar razão ao governo, na ação contra os grevistas da PF. "Se meus colegas professores fizerem uma greve dessas, portando armas e explodindo fogos de artifício na sala dos superiores, serão presos pela Polícia Federal", ironizou. Preocupação O governo Itamar continua convencido de que a ação da CUT visa objetivos eleitorais. Ontem, em almoço na residência oficial da presidência da Câmara, o ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, reforçou essa impressão. "A ação da CUT e essas greves todas são preocupantes", disse Dupeyrat, ao presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira, e a Luciano Pizzatto (PFL-PR), presidente da Comissão de Defesa Nacional. Itamar Franco mostra-se convencido de que a CUT age eleitoralmente. Para ele, a central estaria interessada em desmoralizar o Plano Real e, em consequência, enfraquecer a candidatura do ex-ministro Fernando Henrique Cardoso (PSDB), seu autor. Texto Anterior: Sob a marca da indecisão Próximo Texto: 'Itamar tinha que tomar uma atitude' Índice |
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