São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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A lição de 74

SILVIO LANCELOTTI

Suprema ironia. Depois de tantas críticas, de tantas peripécias e de tanta teimosia, o Brasil vai à Copa com apenas dois volantes. Apenas dois volantes –e defensivos, Dunga e Mauro Silva. A dupla Mário Zagalo e Parreira não convocou um só reserva para os atletas mais importantes de seu esquema conservador.
Tudo bem, não hesitou em afirmar Parreira diante de uma pergunta na entrevista da convocação. Tudo bem, o Brasil tem quatro laterais que sabem atuar no meio-campo –Jorginho, Cafu, Branco e Leonardo. Numa emergência, qualquer um deles pode ocupar as posições de chefia da intermediária. Considero, entretanto, esse raciocínio uma temeridade. E explico a razão.
Deus o livre de uma contusão –mas e se Dunga sofrer uma distensão de virilha aos 5min da peleja de estréia diante da Rússia? Tudo bem, imagina Parreira, no seu lugar entrará, claro, Cafu ou Leonardo, dependendo do estalo cerebral do mister no momento de decidir a troca. Evidentemente, o estilo do Brasil se modificará de modo radical. Em minha opinião, para melhor. O Brasil, no entanto, não estará estruturado para esse estilo muito, muito melhor.
Ou seja, simplificadamente: caso aconteça um infortúnio com Dunga ou com Mauro Silva, o esquema conservador viajará diretamente ao beleléu e o Brasil passará a jogar de uma forma bem mais próxima daquela solicitada pela imprensa, por inúmeros outros técnicos. Sem ter-se acostumado a essa forma, porém.
Adoro a idéia da entrada de um Cafu ou de um Leonardo no posto de Dunga –vá lá, aceito que Mauro Silva permaneça da cabeça-de-área. Não consigo entender, todavia, por que Parreira corre o risco de desmontar os seus conceitos num infortúnio, coisa comunérrima numa peleja ou mesmo num treinamento boboca.
À Copa da Alemanha, em 74, Zagalo só levou três zagueiros centrais (Luís Pereira, Marinho Peres e Alfredo Mostarda) porque o volante Piazza já havia desempenhado uma função de retaguarda no tri do México. Depois que Clodoaldo se contundiu, sobrou no elenco apenas Piazza na cabeça-de-área. E, quando Zagalo precisou tirar Piazza da equipe, apenas lhe restou a improvisação de Paulo César Carpegiani na frente da defesa. A inimizade quase rancorosa que Zagalo nutre pelos seus críticos bem prova ostentar ele uma memória excelente. Não valeu, porém, a lição de 74?

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