São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Não às pressões

Política e economia são temas que normalmente andam juntos. A estabilidade política tem um efeito positivo sobre as expectativas quanto ao futuro, estimula os investimentos e o crescimento. Por outro lado, quando o cidadão –e eleitor– percebe que a economia vai bem e o seu bolso está melhor, sobe a popularidade dos governantes.
Essa é uma relação que existe quase sempre, mas cuja intensidade varia com o tempo, especialmente com o calendário eleitoral. A partir de julho o Brasil provavelmente viverá três meses de acirramento das campanhas políticas, que serão também os três primeiros meses de um novo plano de estabilização.
Em entrevista concedida a esta Folha, o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, afirmou que não permitiria que pressões políticas influenciassem a condução do plano econômico. Desde então, o mesmo tem sido repetido pelo governo.
Mas, se, para além das palavras, se considerarem os atos do Executivo e as atuais negociações, parece que as pressões já começam a ter efeito. Há dez dias o país foi surpreendido com a nova versão do Orçamento que prevê uma elevação de mais de US$ 10 bilhões nos gastos do governo e igual aumento na estimativa de receitas.
Sob pressão de alguns empresários e, talvez, de políticos governistas preocupados com as eleições, o Ministério da Fazenda sugere descartar medidas de contenção do crédito. Uma iniciativa aparentemente defendida pela equipe técnica, mas considerada "antipática" por alguns setores. Nesse caso, a política monetária ficaria restrita à elevação dos juros, que deterioram as contas do Tesouro e, cedo ou tarde, custarão ao contribuinte.
"Last but not least", assiste-se agora à lamentável atitude dos deputados da bancada ruralista, que obstruem a votação da medida provisória que cria a URV, ameaçando o país com a incerteza, caso não obtenham vantagens financeiras para os produtores endividados.
Se o governo quiser manter a credibilidade do plano, e a sua própria, não deve ceder às pressões políticas. Caso contrário, ficarão bastante obscurecidas as perspectivas da estabilização.

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