São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Como prejudicar seu candidato

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Numa reportagem de Josias de Souza, a Folha revela hoje que, na quarta-feira, foi evitada o que poderia ser uma tragédia em Brasília. Inconformados por não terem sido recebidos à tarde pelo ministro Rubens Ricupero, exaltados militantes do movimento dos "sem-terra" planejaram invadir à noite o prédio do Ministério da Fazenda. O Exército estava preparado para reagir, mas entraram em ação parlamentares do PT, evitando-se o conflito.
A história serve como símbolo de um curioso movimento da sucessão presidencial, atingindo os dois principais candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Ambos vêm tendo mais problemas do que ajuda de seus aliados nos meios sindicais e empresariais. Explico melhor.
A CUT quer sinceramente Lula na Presidência da República. Mas, ao estimular uma onda de greves, atrai para o PT a ira dos cidadãos comuns aborrecidos com os serviços básicos parados. O candidato se esforça em vender a imagem de moderado, mas os sem-terra no Rio Grande do Sul invadem um prédio público, armados com foices.
As entidades empresariais mostram-se não menos sinceras ao desejarem a vitória de Fernando Henrique Cardoso. Mas, entre os empresários, a especulação de preços corre solta para faturar o máximo no menor tempo possível, ameaçando o plano econômico.
O indivíduo não precisa ser um gênio para perceber que a eleição de Fernando Henrique não é fácil. E será impossível caso o plano de combate à inflação fracasse –este, aliás, é um dos estímulos que levam a CUT a promover greves, afetando o plano FHC.
PS – Só os idiotas irremediáveis são incapazes de perceber que a democracia brasileira está longe da solidez. À medida que os civis não consigam administrar com um mínimo de competência e desprendimento os conflitos, as Forças Armadas ganham espaço e transmitem a idéia de que, sem elas, não existe ordem. É exatamente o que ocorreu com a tomada da Polícia Federal, cuja intervenção é considerada (e com razão) democraticamente aceitável. Afinal, serviços essenciais foram paralisados.

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