São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Imprensa dos EUA ignorou visita de Lula

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Exceto por duas notícias discretas, uma no jornal "The Washington Post" e outra no "The Boston Globe", a visita de Lula aos EUA passou despercebida na mídia norte-americana.
Não chega a ser surpresa. Candidatos à Presidência de outros países despertam pouco interesse no público deste país.
O espaço que Lula ganhou do "Post" se deveu apenas ao fato de ele ter participado de audiência no Congresso dos EUA.
Seu depoimento aos deputados da subcomissão de assuntos do hemisfério ocidental o tornou personagem da política local. Por isso, virou notícia.
O texto, assinado pelo repórter Gary Lee, chama Lula de "ex-torneiro mecânico e líder do Partido dos Trabalhadores, de orientação marxista... algumas vezes criticado por suas políticas radicais".
Lee disse que a viagem de Lula aos EUA foi concebida para "reassegurar ao governo Clinton, aos congressistas e ao público americanos que sua campanha (presidencial) é séria e viável".
A Folha conversou com jornalistas que estiveram presentes às reuniões que Lula teve nas redações do "Post" e do "The New York Times".
No "Post", ele falou durante uma hora a oito pessoas. A mais graduada delas era a subsecretária de redação Carol Van Horne.
O encontro era "off the records" (havia o compromisso do jornal de que as declarações de Lula não seriam publicadas).
Lula tentou passar a impressão de que é um político moderado. Enfatizou várias vezes que, se eleito, vai manter os compromissos internacionais assumidos pelos governos brasileiros anteriores ao seu.
A maioria dos presentes nunca o havia ouvido antes. A Folha apurou que ele atingiu seu aparente objetivo de se mostrar como não radical.
No "Times", Lula conversou com dez jornalistas durante 45 minutos, também "off the records".
Quem assistiu às duas reuniões achou que a do "Post" foi mais descontraída e eficaz, do ponto de vista de Lula.
Suas metas no "Times" eram as mesmas, de acordo com os presentes: dar garantias de que, se houver, seu governo será responsável.
As perguntas que recebeu foram muito básicas e óbvias. A avaliação dos jornalistas do "Times" também foi de que ele se saiu bem.
Nesses dois encontros, Lula estava acompanhado do deputado Aloizio Mercadante, que o ajudava nas questões econômicas.
Na entrevista coletiva que ele deu a cerca de 50 jornalistas de vários países em Washington, Mercadante já não estava.
Dois repórteres especializados em economia ouvidos pela Folha depois da coletiva se disseram impressionados com a falta de conhecimentos de finanças internacionais da parte do candidato petista.

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