São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Sem as muletas novamente

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Vamos tentar esquecer as eleições e nos concentrar na reforma monetária de 1º de julho. A partir daí, nossa economia e o mercado financeiro estarão libertos dos mecanismos de correção monetária que nos acompanharam nos últimos 25 anos.
Conseguiremos andar com nossas pernas ou a falta da muleta da indexação vai nos fazer tropeçar novamente? Nos dias eufóricos do Cruzado, o tombo foi terrível. É certo que o doente, em vez de sair em cuidadosa marcha, preferiu a corrida ao crescimento acelerado.
Movida pela ilusão monetária dos juros nominais baixos, alimentada pela explosão do crédito gerada pela monetização dos ativos financeiros, sustentada pelos salários libertos da corrosão da inflação e dopada pelo congelamento dos preços, a economia cresceu quase 10% em curto espaço de tempo.
A vontade de recuperar o tempo perdido foi mais forte do que a necessidade de se consolidar o terreno penosamente ganho na batalha pela estabilidade da moeda. No fim, não tivemos nem uma coisa nem outra.
Agora, na implantação do real, a equipe econômica vem dando sinais de não querer repetir os erros de 1986. Os três meses de existência da URV foram usados com certa habilidade para sincronizar os preços.
Da mesma forma, procurou-se equilibrar as contas públicas, dentro das limitações institucionais existentes e das dificuldades de mensuração que uma inflação de mais de 40% ao mês apresenta.
E já são claros os sinais de um aperto no crédito nos dias após a entrada em circulação do real. Certamente, o Banco Central utilizará sólidas amarras quantitativas para evitar que uma enxurrada de empréstimos atinja as empresas e os consumidores. Para reforçar a camisa-de-força no crédito, vai manter o juros em níveis bastante elevados.
Ficarão de fora da tentativa de reduzir a expansão da demanda os aumentos reais dos salários já obtidos com a URV e os ganhos financeiros dos consumidores com o fim da expropriação causada por 2% ao dia de inflação.
Serão as medidas suficientes para evitar que o paciente, sem a muleta da correção monetária, saia em desabalada carreira até novo tombo histórico? Isto, só Deus pode nos responder.

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